Enquanto Fernando Heid, de Linha Tigrinho, interior de Marques de Souza faz todos os pedidos pelo aplicativo WattsApp para manter o funcionamento da granja de 4 mil suínos, o vizinho Odário Scheuermann, de Linha Orlando, desconhece esta praticidade.
“O pessoal fala que é uma ótima ferramenta, mas aqui para falar ao telefone, a maioria precisa se deslocar até as partes mais alta da comunidade por que o sinal é péssimo”, lamenta.
Scheuermann mantém um aviário com 42 mil frangos e produção diária de 320 litros de leite. Para ele, além de dificultar a permanência dos jovens no interior, a maioria das famílias está isolada quando o assunto é tecnologia.
“Enquanto os outros integradores estão conectados e fazem tudo pelo telefone, como pedidos, emissão de notas fiscais, tiram dúvidas sobre problemas na criação, nós mal e mal conseguimos fazer uma ligação”, critica.
Na comunidade uma empresa especializada trabalha na instalação de fibra óptica e antena para atender em torno de 30 famílias. O caso da família Scheuermann, é a mesma realidade de 3,6 milhões de propriedades em todo país, segundo pesquisa do IBGE.
O acesso à internet no campo é um dos principais desafios do agronegócio brasileiro. De acordo com o último Censo Agropecuário, de 2017, mais de 70% das propriedades (5,07 milhões de estabelecimentos rurais). No entanto, entre 2006 e 2017, o acesso a internet registrou crescimento de 1.900%. O setor registra movimentação financeira acima de R$ 1,43 bilhões.
“Temos sinal 0G”
Em Imigrante, o prefeito Celso Kaplan lamenta a ausência do sinal em muitas localidades do interior. Apesar do esforço de levar a tecnologia com projetos e recursos próprios para várias comunidades, entende ser compromisso do governo federal ampliar o acesso. “Existe um fundo com mais de R$ 20 bilhões, o suficiente para solucionar os problemas no interior”, observa.
Para ele, a internet muda a realidade de quem vive no interior e ajuda a manter o jovem no campo. “Aqui muitos são integrados e esta tecnologia é fundamental para ter acesso as informações. Enquanto temos cidades com acesso ao 5G, aqui muitas localidades tem 0G”, compara.
Decisões em tempo real
Para a chefe-geral da Embrapa Informática Agropecuária, Silvia Massruhá, o acesso á internet ajuda o produtor a adotar novas tecnologias, melhorar o modelo de negócios, reduzir custos e qualificar a produção. “Com a propriedade monitorada, informações on-line, é possível tomar decisões em tempo real”.
Maciel Tomasi, 26, de Boqueirão do Leão sabe bem disso. Todas as dúvidas sobre a produção de tabaco são esclarecidas pelo WattsApp. “Contratamos um plano de internet via satélite e pagamos R$ 170 por mês. É a única forma de nos comunicarmos, já aqui o sinal de telefone inexiste”.
Demanda recorrente
Ampliar o sinal de internet no interior é um dos pedidos mais comuns conforme o gerente de universalização da Anatel, Eduardo Jacomassi. A agência recebe por ano em torno de 500 solicitações para expandir o acesso.
Entre as soluções, destaca o leilão do 5G, previsto para este ano, onde as operadoras sejam obrigadas a expandir a conectividade no campo. “Existem 15.469 áreas habitadas do país identificadas como localidades que não possuem conexão 4G”, comenta.
A Anatel espera que seja aprovado no Congresso Nacional um projeto de lei que permita a utilização de um fundo financiado pelas operadoras, criado nos anos 2000, para garantir a universalização da telefonia fixa. A mudança poderia representar a liberação de R$ 1 bilhão para investimentos.