Mal iniciamos alguns poucos dias de isolamento social e já nos vemos diante de grandes controvérsias sobre como lidar com o vírus. Digo isso, ainda na madrugada de quinta-feira, 26 de março de 2020, quando lhes escrevo esta coluna, indubitavelmente temeroso das manchetes que possam estampar nossos jornais quando o dia amanhecer, na sexta ou no fim de semana. Nem nos mais intrincados filmes de catástrofe que assisti, os fatos foram tão voláteis como nesses últimos dias. E não se tratam de fake news, embora elas continuem sendo espalhadas – vindas das mais diversas origens, o que tristemente constatamos, ao verificar uma mulher sendo identificada e tendo que se retratar, assumindo via áudio a barbárie que estava cometendo. A autora poderá responder por contravenção penal por provocar alarme, anunciando desastre ou perigo inexistente ou praticar ato capaz de produzir pânico ou tumulto.
Tão ruim quanto, foi ver a acachapante postura do presidente diante do momento que vivemos. Por pior que sejam as nossas expectativas quanto aos desafios que tenhamos pela frente e que discordemos de tais ou quais medidas de um ou de outro, o que mais se deseja hoje é apoio e estabilidade, não controvérsia e polarizações. E não se trata de ser contra o governo e, muito menos, contra o país. Trata-se apenas de equilíbrio na liderança e gestão de uma nação. Por ora, os governadores assumiram a postura mais coerente e, mesmo que revejam alternativas às suas estratégias no combate à covid-19, mantiveram a serenidade diante de tamanha impropriedade.
E quanto a nós? Temos amigos, conhecidos e familiares atuando em atividades essenciais, além de outros tantos circulando em função de suas necessidades profissionais e pessoais. A maioria tem experimentado pela primeira vez a sensação de estar em confinamento, um confinamento social, é verdade, em suas residências ou locais de repouso. Não sabemos por quanto tempo vai durar. Mas algumas coisas já podem ser tiradas desse período de extrema mudança: somos uma sociedade frágil, capazes de sofrer revezes em nosso dia a dia, muito além do que poderíamos imaginar; sob toda a estrutura econômica e crescimento pujante das grandes nações, existimos nós, seres humanos, uma raça inteligente, mas minúscula, diante dos mais minúsculos dos seres; reinventar-se não é apenas um exercício da moda, é condição exemplar, é o esforço de adaptabilidade pelos quais homens e mulheres vêm passando desde os primórdios.
Enquanto o mês não finda, quando teremos que nos deparar com Abril, IR, planos e compromissos, o melhor exercício talvez seja olhar com outros olhos para a vida que levamos. Muitos precisam urgente reinventar seus negócios, usando de toda estratégia e criatividade para fazer a máquina ter algum giro. Tantos outros terão que ficar na espera dos fatos. Mas, certamente, todos podemos olhar para dentro de si. Porque hoje não tem rico ou pobre, empresário, empreendedor ou funcionário, todos vamos passar pela mudança, seja pessoal ou profissional. Vai valer mudar o mindset, quebrar paradigmas e tudo mais que tenhamos aprendido nos últimos tempos e vai valer, principalmente, o bom senso e o entendimento de que uma sociedade se faz com interdependências, conexões, respeito e cuidado de um pelo outro. Pois só com elos fortes somos capazes de resistir às ondas que virão.
Sérgio escreve sempre no quarto fim de semana do mês. Fale com ele: santanna.sergio@hotmail.com ou WhatsApp 99145 5005.