Empreendedores buscam saídas para manter os negócios

Resiliência Empresarial

Empreendedores buscam saídas para manter os negócios

Home office é adotado principalmente por serviços não considerados essenciais. Supermercados estão se adequando ao decreto estadual e criam horário específico para atender clientes do grupo de risco

Empreendedores buscam saídas para manter os negócios
Imec colocou avisos para informar horário diferenciado para grupos de risco
Lajeado

Funcionária do setor de Custos e Orçamentos da Univates, Tailana Juchum, 30, é uma entre tantas trabalhadoras da região que tiveram que se adaptar à pandemia do novo Coronavírus (Covid-19). Antes mesmo de autoridades anunciarem medidas mais restritivas à circulação de pessoas, ela passou a trabalhar em casa.

Segundo ela, a universidade, preocupada com a comunidade, comunicou já na última segunda-feira para que funcionários se organizassem para o “home office”. Para isso, contaram com o apoio do setor de TI para que consigam desempenhar suas tarefas longe do ambiente de trabalho.

“Desde o primeiro dia, está funcionando muito bem. Para quem consegue desempenhar sua função de forma remota, deve fazê-la. Não temos outra alternativa no momento e, com o apoio das empresas e organização pessoal, é possível e funciona muito bem. A tecnologia está aí para nos ajudar”, afirma.

Tailana ressalta também a importância das pessoas ficarem em casa também nos períodos do dia que vão além da jornada de trabalho. “As empresas que não medem esforços e tomaram a iniciativa merecem os parabéns. Somos uma comunidade e precisamos nos ajudar”, opina.

Muitas empresas, nos mais diversos ramos, estão buscando formas de não interromper suas atividades, principalmente aquelas que não desenvolvem serviços considerados essenciais.

Tailana aderiu ao trabalho em casa após determinação da Univates

Adaptação dos mercados

Um dos serviços considerados essenciais para a população, os supermercados também estão se adaptando para melhor atender a população em um período onde o isolamento é recomendado. Na rede de supermercados STR, o horário de expediente foi reduzido, com o fechamento em todas as unidades ocorrendo às 18h a partir da próxima segunda-feira.

“Também disponibilizaremos um horário específico para atender os grupos de risco. Das 7h30min às 8h30min nas unidades de Lajeado e Estrela, e das 8h às 9h nas demais. Mas estamos abertos para se adequar às novas realidades. A decisão de hoje pode mudar amanhã”, explica o diretor Lauro Baum. Além disso, os estabelecimentos estão intensificando medidas de higienização do ambiente.

O Imec também utilizará a primeira hora da manhã para atender clientes do grupo de risco. A determinação vale para todas as unidades, segundo o diretor-presidente Leonardo Taufer. Além disso, a empresa vai restringir a capacidade de público em 30% nos estabelecimentos.

“Estamos criando barreiras dentro dos estabelecimentos para garantir o distanciamento entre as pessoas. São uma série de medidas que também visam proteger os nossos colaboradores, criando escalas intermitentes de trabalho. É importante contarmos também com o apoio da comunidade”, afirma. Itens como álcool gel, leite e papel higiênico serão limitados por cliente.

Já a rede de supermercados Languiru abriu uma ferramenta online para facilitar a compra e entrega de mercadorias aos clientes. Os pedidos podem ser feitos tanto pelo WhatsApp quanto ligando diretamente para o número (51) 999552048. O serviço está disponível para endereços que se encontram dentro do município de uma das unidades.

Empresa aumenta velocidade da internet

A GPS Net, que atua em três municípios da região, tomou medidas para facilitar a vida em tempos de isolamento e distanciamento social. A principal medida, conforme o diretor de mercado, Névio Stefainski, foi a de aumentar a velocidade da internet sem custo para seus clientes.

“Nosso serviço é essencial, pois conectamos hospitais, farmácias, supermercados, empresas de comunicação. Não podemos deixá-los desassistidas”, comenta Stefainski. O trabalho deve ser concluído até domingo, aumentando até 50% da velocidade contratada.

A medida, em princípio, vale para os meses de março e abril. “Mas essa previsão pode ser prorrogada”, admite Stefainski. A empresa, a partir de segunda-feira, dividirá seus funcionários em três turmas, concedendo férias em períodos de 15 dias, reduzindo o atendimento presencial. Nas redes sociais, o trabalho é de intensa divulgação aos clientes, com recomendações.

Videoconferência é adotada por empresas para que colaboradores mantenham atividades durante isolamento

Apoio aos hospitais

Com sede em Estrela, a Medical San está se colocando a disposição para ajudar hospitais do Vale do Taquari que necessitem eventualmente de peças. A empresa atua na fabricação de produtos e equipamentos na área da saúde.

Conforme o diretor da Medical San, Mauro Filho, a ideia é contribuir de alguma maneira para o combate à pandemia. “Nossos produtos e acessórios possuem o mesmo padrão para qualquer parte da saúde, é mundial. Então, se os hospitais estiverem precisando de alguma peça, algum componente faltando, estaremos doando para que possam estar com tudo disponível para o atendimento ao público”, explica.

 

ENTREVISTA

André Nunes de Nunes,
• Economista-chefe da Federação das Indústrias do Rio Grande do Sul (Fiergs), admite que o momento é de incertezas, mas acredita na capacidade de empresas se readaptarem a realidade. Ressalta que o trabalho remoto é uma saída fundamental e que, após o avanço da doença ser contido, possa ser implementado cada vez mais nos setores produtivos.

“É uma crise que vai passar”

Como as empresas devem se adequar a esse momento?
André Nunes de Nunes – Não sabemos exatamente quanto tempo isso vai durar, o que traz incerteza para os negócios. Alguns são mais impactados que outros, principalmente o varejo. Na prática, o que as empresas devem cuidar diz respeito ao fluxo de caixa, dos pagamentos. Isso é o mais difícil. Vai exigir muito dos gestores. E, mais do que nunca, o empreendedor vai ter que se manter atento aos anúncios do governo.

Os micro e pequenos tendem a “sofrer” mais com essa crise. Como eles devem encarar o momento atual?
Nunes – Essa é a nossa grande preocupação. Ele deve estar muito atento, falar com seu contador, sua área administrativa, para ter uma resposta rápida. Talvez sejam anunciadas com mais detalhamento linhas de financiamento com taxa de juros mais favoráveis, ou dispensar o trabalhador e o governo pagar uma parte. E nosso papel também é passar uma mensagem de alento. É uma crise que vai passar e depois tudo volta ao patamar que estava anteriormente. É importante ter essa visão, fazer com o que o empreendedor fique tranquilo e de que é algo momentâneo.

O home office tende a ser uma medida mais adotada por empresas?
Nunes – Talvez essa seja uma das boas consequências ou aprendizados dessa crise. Muitas pessoas se obrigaram a trabalhar em casa. Sabemos que muitas empresas, mesmo após a reforma trabalhista, ainda tem medo de adotar essa forma de trabalho. Então, é um período de experimentação e pode ser uma herança boa desta crise. Traz benefícios tanto para o empregador quanto para o trabalhador.

Vai ser um ano muito difícil para a economia?
Nunes – Para se ter uma ideia, no final de 2019, quando fizemos o balanço econômico, prevíamos um crescimento de 1,8% para a economia em 2020. Na última segunda-feira, fizemos uma revisão, colocando um pouco do impacto do Coronavírus e também da estiagem. Caiu para 0,1% o crescimento, ou seja, quase nada. O PIB do 1º trimestre será um pouco impactado e o do 2º trimestre será ainda mais. A indústria tinha previsão de 1,4%, mas deve ser de 0,7%

Economista-chefe da Fiergs, André Nunes de Nunes

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