Nas viradas de ano me recolho por um minuto e me pergunto: o que o novo ano reserva? Neste 31 de dezembro, noite cálida e gostosa com a brisa marinha da Rainha do Mar, me fiz o mesmo questionamento, entrando 2020 prevenido para muitas coisas, menos para esta pandemia instalada.
Inimaginável que algo assim sutil, mas extremamente efetivo pudesse, em tão pouco tempo, desequilibrar nosso universo terreno, tecnificado, que fazia-nos sentir poderosos e indestrutíveis. Terá o coronavírus um dedo divino para afastar-nos um pouco do materialismo, da imoralidade, da crescente falta de valores e de ética, trazendo-nos de volta à redescoberta de sentimentos espirituais e humanitários? À desaceleração do ritmo frenético das nossas vidas? Vejam, por exemplo, de quantas reuniões nos livramos, no momento. E o que mudou sem elas?
No curso de Economia que fiz na FATES (hoje UNIVATES) nos anos 70, estudávamos as grandes calamidades e guerras sob a ótica dos efeitos que tiveram no reordenamento da humanidade. Da mesma forma, as projeções de um crescimento populacional desproporcional, da falta de comida, de água, de moradias, de hospitais, de civilidade, etc. Certo dia Gilberto, colega meio fatalista, pediu a palavra e defendeu a ocorrência da terceira Guerra Mundial como mecanismo de reordenamento populacional, econômico e social. Foi vaiado.
Pois aí está. Nos encontramos em meio à Terceira Guerra Mundial com o coronavírus. Tontos com as informações e em meio a manipulações que visam enriquecer uns poucos. Mesmo as guerras, que mataram milhões, por detrás tinham, como motivação, os interesses de poucos. Historicamente é assim. Desde que Adão e Eva caíram em pecado, é assim. Caim não matou Abel por isto? Jacó não atraiçoou seu irmão Esaú visando poder e riquezas? Sodoma e Gomorra, as sete pragas do Egito também não nos passam algo?
Sabe-se que este tsunami – que no momento atinge outros países – vai nos pegar. Por hora, em nosso meio são pequenas ondas, as marolas de que falávamos no início da grande crise econômica de 2007/2008. As medidas preventivas e de orientação até agora adotadas, corretíssimas. Também de parabéns a população que, mesmo atônita, faz a sua parte nos cuidados recomendados.
Apenas para contribuir com a reflexão e ações em andamento, cuidaria para que, quando a grande onda chegar, de maio a julho, não termos nos apavorado muito cedo a ponto de, naqueles momentos, não termos mais forças para corrermos para as montanhas onde a água não nos atinge.
Ao invés de repisar a falta de capacidade do sistema de saúde, focaria em criar estruturas de guerra para o atendimento da população infectada pelo coronavírus, com pico previsto no inverno. Em nenhum inverno, nos últimos anos, tivemos vagas suficientes nem mesmo para atendimento das doenças comuns à estação. Nossa região, por exemplo, para uma população de 360 mil habitantes deve contar com cerca de 15 leitos de UTI e algumas dezenas de respiradores com oxigênio.
Quem sabe, utilizar-se parques de eventos no Estado, o exército com hospitais de campanha e estudantes de medicina em final de curso? Assim, montar-se as estruturas necessárias. Também manter, ao máximo possível a atividade econômica e o nível de emprego e renda. Senão, a depressão e a busca pela sobrevivência podem gerar estragos maiores. Sem esquecer que a praga maior é a fome. Barriga vazia e filho implorando por comida põe as barreiras morais lá nos calcanhares. Quanto à mídia, fundamental sua atuação. Louve-se os órgãos regionais. Informam e orientam bem e na medida. Um exemplo às grandes redes que têm o assunto como pauta única há mais de mês, mas numa linha que mais assusta do que informa e orienta.