Não é só no Brasil que a maioria das atividades esportivas estão paralisadas. A pandemia do coronavírus mexe com toda a estrutura do esporte mundial, fazendo com que milhares de atletas fiquem em casa e se preparem para quando as atividades voltarem.
Pelo menos sete atletas possuem ligações com o Vale do Taquari. De Portugal ao Japão, passando por Itália, Espanha e Macedônia e chegando até os Emirados Árabes Unidos, tudo está paralisado. Filhos do Vale contam o que presenciam nas ruas destes países e como a pandemia tem alterado as suas rotinas.
“É algo de grande proporção na Europa”
Natural de Arroio do Meio, Cássio Scheid, 26, joga no Farense, time da cidade de Faro, em Portugal. O time estava brigando para subir à primeira divisão da Liga Portuguesa quando o campeonato foi paralisado em virtude da pandemia. Agora, as atividades esportivas no país estão paradas por tempo indeterminado. “Não sabemos quando vai voltar ou como vai ficar a situação”, comenta o jogador.
Fora o campeonato, todos os clubes estão proibidos de treinar. Sendo assim, os jogadores têm recomendações para treinarem em casa, e se for para sair de casa, somente para necessidades básicas, como compras em mercado e consultas médicas.
O caso de Scheid é ainda diferente. O jogador está parado faz dois meses após uma cirurgia no joelho. Para a recuperação, ele realiza tratamentos individualmente com um fisioterapeuta.
Com cerca de 800 casos confirmados, Portugal está entre os países mais afetados pelo coronavírus na Europa e já decretou estado de emergência. Escolas e comércio foram fechados, e a determinação é que a população não saia de casa. “Há um limite de pessoas que podem entrar nos mercados. O restante das pessoas fica em uma fila com uma distância considerável uma da outra”, comenta.
Cássio mantém contato direto com a família em Lajeado. “É algo de grande proporção na Europa, e por isso tento alertá-los sobre os cuidados básicos do dia a dia. Digo que o melhor é permanecer em casa até as coisas acalmarem.”
“É preciso dizer aonde se vai”
Rafael Rizzi, 26, mora em Rieti, na Itália, onde joga futsal no Real Rieti. Natural de Lajeado, ele diz que a equipe vinha muito bem nas competições, onde estavam em uma sequência invicta de dez jogos antes de pararem em função do coronavírus. “As expectativas eram ótimas, a princípio brigaríamos em todas as competições. É óbvio que atrapalha, mas por motivos maiores tivemos que parar, agora é esperar e ver o que será decidido”, comenta.
A Itália é o segundo país com mais casos no mundo, atrás da China, e o com maior número de mortes, mais de 3.500. O governo decretou quarentena até o dia 3 de abril e suspendeu todos os eventos esportivos. Depois da data estipulada, voltarão a avaliar a situação.
Rizzi diz que a cidade está toda fechada, apenas farmácias e mercados funcionam, e mesmo assim com horário restrito. Todo mundo deve ficar em casa e, se sair, é preciso levar um documento que funciona como uma forma de autorização. “É preciso dizer aonde se vai e o porquê. Caso a polícia pare alguém na rua sem o documento, a pessoa pode ser presa e até pagar uma multa de 300 euros”, diz o jogador.
Rafael comenta que não houve nenhuma contaminação em seu clube, e que os atletas receberam uma planilha de treinamentos para serem feitos em casa. “Não sabemos quando voltaremos, então é importante manter a forma para não ter tanta dificuldade no retorno”, avalia.
Com a família no Brasil, é normal que haja preocupação, por isso Rafael fala todos os dias com os familiares e tenta deixá-los tranquilos. “Não tem muito o que fazer, então é ter calma e manter os cuidados necessários.”
“Tivemos jogadoras com febre, mas o contágio foi descartado”
Natural de Nova Bréscia, Ana Carolina Sestari, 24, é outra filha do Vale que mora na Itália. Goleira no Montesilvano Calcio, ela inclusive é naturalizada italiana, tendo defendido a seleção de futsal do país.
A goleira mora na região de Pescara, onde já houve 15 mortes e mais de 400 casos confirmados. O último jogo que disputou foi no dia 23 de fevereiro, pouco antes da paralisação do país. “Tivemos jogadoras com febre, mas era uma simples gripe. Fizeram o exame e foi descartado o coronavírus, mesmo assim ficamos preocupados. Felizmente não há nenhum caso no meu time”, comenta.
Ana diz que a conversa com a família é frequente, sempre dando a real situação. “Minha mãe me liga e pede como estou, o que está acontecendo. Sempre falo a verdade. A questão é que o Brasil já deveria ter tomado as mesmas medidas que a Itália para assim o vírus não ir para frente.”
“Mais importante que o futebol”
Zagueiro do Alavés, da Espanha, Rodrigo Ely, 26, está confinado em casa já faz alguns dias. A Espanha é o quarto país com mais casos no mundo, já são mais de 18 mil, com cerca de mil mortes. “A Espanha toda está em alerta. Todos os lugares fechados, todo mundo em casa por ordem do governo. Há policiamento na rua controlando as pessoas e chegam até a multar quem está fora de casa sem necessidade”, comenta Ely, natural de Lajeado.
O Alavés, time na qual joga, é uma equipe de primeira divisão da Liga Espanhola. Sete profissionais do clube deram positivo para o coronavírus, sendo três atletas. “Fizemos o teste por recomendação da Liga, até pela questão da continuação ou não do campeonato. Fiz o teste e deu negativo. Tenho companheiros e pessoas próximas que deram positivo, mas estão todos sem sintomas” comenta.
O zagueiro conta que está confinado dentro de casa com a família desde o início da semana. É uma recomendação do governo, mas ele diz que é por vontade própria também, pois é uma forma de prevenção e de frear a situação.
A temporada estava em linha com o objetivo do clube, que é a permanência na primeira divisão. “Estávamos em uma boa dinâmica, mas o mais importante agora é a saúde de todo mundo. Fizeram mais do que bem em parar a temporada para se concentrar só no combate do Covid-19”, salienta.
Os planos para as próximas semanas são ficar em casa, onde Rodrigo tem uma academia para manter a forma para quando voltar a jogar. “Preciso manter a parte física, mas também fazer a minha parte como cidadão para combater o vírus, que é algo muito mais importante que o futebol em si.”
“Quanto tudo normalizar o campeonato deve voltar”
Paulo Eduardo Carvalho, o Padu, já brilhou com a camisa do Lajeadense e hoje está no Makedonija Gjorce Petrov, sexto colocado no campeonato da Macedônia, mais uma competição que está parada e sem data para voltar. “Essa semana teve uma reunião na UEFA e eles debateram sobre a ideia de terminar a temporada agora, mas não foi aceito. Então, a princípio, quando tudo normalizar o campeonato deve voltar”, conta ele.
Com uma população de 2 milhões de habitantes, a Macedônia tem cerca de 50 casos de Covid-19, mas nenhuma morte. Segundo Padu, a situação no país é mais tranquila que no Brasil, com as lojas e mercados ainda funcionando. “As pessoas compram só o necessário e em todos os lugares tu é atendido por alguém de máscara e luva, além de ter álcool em gel na entrada e na saída”, comenta.
O atacante havia perdido os últimos jogos por causa de uma lesão no metatarso, e com a parada já conseguiu se recuperar. Ele foi titular nas três primeiras rodadas do campeonato, tendo feito gol inclusive.
Com família em Roca Sales e em Caxias do Sul, ele conta que a preocupação maior não é sobre a sua situação na Macedônia, mas sim a do Brasil. “No começo eles ficaram preocupados, mas a situação está mais preocupante no Brasil do que aqui.”
“Já fui testado e felizmente deu negativo”
Maiky Reiter, 34, mora em Abu Dhabi e é professor de jiu-jitsu nas forças armadas dos Emirados Árabes Unidos. Ele conta que o país já teve 140 casos, mas nenhuma morte. “O sheik tomou precauções desde o começo. Escolas fecharam e o exército tem trabalhado apenas na parte burocrática”, comenta.
Reiter conta que uma das últimas medidas tomadas foi vetar a entrada de turistas e até residentes que viajaram para fora do país. O governo garantiu também que não irá faltar nada para a população, principalmente em relação à comida e medicamentos.
Ele conta que para entrar na base militar é obrigatório o uso de máscaras, além de ser necessário medir a temperatura corporal. “Já fui testado e felizmente deu negativo”, comemora.
Morando dez anos em Abu Dhabi, Reiter mantém conversa diária com os familiares que moram em Estrela e Cruzeiro do Sul. “São horas de diálogo sobre os acontecimentos, sobre o que fazer e como se comportar. Eles logo entenderam a seriedade da situação e estão se cuidando.”
Aos poucos, o Japão volta ao normal
O japonês Takumi Sugimoto jogou na Alaf no ano passado e estava se preparando para voltar ao Brasil quando a pandemia surgiu. Natural de Kanagawa, cidade com mais de 9 milhões de habitantes, ele diz que a situação no país asiático está amena. “O Japão está melhorando. Tinha parado muitas coisas, como aulas e esportes, mas aos poucos está voltando ao normal”, diz.
O Japão tem cerca de mil casos e 30 mortes devido o coronavírus, mas nenhum caso na cidade de Takumi. “A minha cidade soube lidar e está bem, mas tem casos no meu estado”, comenta o jogador.
Takumi defendeu as cores da Alaf na temporada passada
Covid-19 no esporte
Daniele Rugani – Zagueiro da Juventus
Blaise Matuidi – Volante da Juventus
Patrick Cutrone – Atacante da Fiorentina
Germán Pezzela – Zagueiro da Fiorentina
Jonathas – Atacante do Elche
Ezequiel Garay – Zagueiro do Valencia
José Gayà – Lateral do Valencia
Eliaquim Mangala – Zagueiro do Valencia
Mikel Arteta – Técnico do Arsenal
Callum Hudson-Odoi – Atacante do Chelsea
Kevin Durant – Ala do Brooklyn Nets
Marcelo Medeiros – Presidente do Internacional