• Quando começou a dirigir ônibus? Sempre na linha Conventos?
Eu trabalhava na Brasfrio, era motorista de carreta. Carregava congelados para São Paulo, Manaus, Recife, todo o Brasil, de ponta a ponta. Chegava a ficar dois meses fora de casa. Quando não tinha criança, até viajava com a mulher. Quando você tem filho, muda tudo. Aí optei pelo ônibus, porque estou em casa todos os dias. Acabamos usando o gancho do ônibus e estou até hoje. Comecei na Ereno Dörr dia 18 de março de 1998, na linha de Conventos, quando era estrada de chão.
• Nestes 22 anos, como é a relação com a comunidade?
Eu acompanhei essa meninada que eu transportava para o colégio. Eu vi eles crescerem. Tem muita gente que eu conheci pequenininho e acompanhei eles tendo filhos e netos e assim por diante. Em 22 anos na mesma linha, a gente conhece pai, mãe, avós, tudo. Já sei onde as pessoas moram. Quando a pessoa não desce na parada, eu até pergunto. A única coisa é que eu não aprendi a falar alemão. Na região, tem pessoas de mais idade que não falam português. Daí o pessoal me ajuda a entender. É muito difícil não ter dois ou três que falem alemão ai.
• Conhece mais gente no bairro que mora ou em Conventos?
Moro no Florestal desde que vim para Lajeado. Com certeza conheço mais gente em Conventos. São muitos anos, cria um vínculo. Os pais pedem para levar os filhos, alguns pedem para levar um dinheiro para alguém. Quando é tempo de laranja, batata doce, mandioca… Quando matam um porco, dizem: “motorista, teu pedaço está separado!” É um povo bem legal. A gente conhece um por um.
• Já presenciou histórias inusitadas no ônibus?
Todos os dias tem uma situação diferente, as histórias do dia a dia. De vez em quando alguém briga no ônibus, isso acontece. Não posso escolher passageiro, todo mundo tem direito de ir e vir. Graças a Deus, em 22 anos, não tenho ocorrência policial de assalto. Eu digo que é sorte. Já tive dentro do ônibus criminosos que tinham assaltado uma madeireira. Ele estava em fuga de manhã cedo do assalto da noite. Todo mundo conhecia as vítimas. O cara todo sujo, perguntaram de onde ele vinha e ele disse que estava caçando. Estava armado. Não posso deixar botar em risco as pessoas. Para quem trabalha no ônibus, é bem difícil.
• Planeja se aposentar?
Estamos chegando aí. Trabalhei oito anos com mais 22. Como o transporte eu tinha insalubridade, estou chegando em torno de 35 anos de carteira. É tão bonito quando você chega no local de trabalho e as pessoas dão bom dia, perguntam como você está. Eu gosto do que eu faço, trabalho com gente. O motorista de ônibus é psicólogo, a nossa psicóloga fala isso. A pessoa paga a passagem e acha que tem direito a uma consulta. Tem muitos passageiros que querem e precisam conversar.