Lajeado não seria a mesma sem Pedrinho Althaus. Ele chegou na cidade em meados da década de 1970 e se tornou pioneiro na abertura de loteamentos em locais que depois se tornariam bairros bastante populosos, como Campestre, Jardim do Cedro, Montanha e Altos do Parque.
Originário da localidade de Chapadão, hoje pertencente à Santa Clara do Sul, ele se tornou empreendedor aos 21 anos quando abriu uma venda. Antes, trabalhou em oficina mecânica e com transporte de leite. O comércio prosperou e se tornou o principal armazém de secos e molhados daquela comunidade.
Em 1976 decidiu vender a casa comercial para empreender no ramo imobiliário em Lajeado. Assim, iniciaram os primeiros loteamentos da cidade. Líder comunitário, Pedrinho também foi vereador por duas legislaturas. Hoje, se diz decepcionado com os rumos da política e os gastos elevados da Câmara.
Quando o senhor decidiu empreender?
Auri Pedrinho Althaus – A família era toda da lavoura e eu ajudava na roça. Com 15 anos fui trabalhar em uma oficina mecânica. Depois, fui leiteiro em Sério, onde puxava leite de caminhonete. Até que decidi abrir uma casa comercial na localidade de Chapadão. Comecei a empreender lá, quando ainda era solteiro, com 21 anos. Fui muito bem lá, até que decidi vender e vir para Lajeado. Na época, eu queria pegar áreas maiores e picar para vender em pedaços. Isso era 1976. Nem sabia que o nome era loteamento. Fiquei mais uns anos com o comércio em Chapadão até ver se daria certo essa minha ideia.
Como o comércio prosperou?
Althaus – Passei em todos os colonos e falei para me tornarem forte para que eu pudesse vender financiado para eles. Aí, consegui entrar na Souza Cruz. Na primeira vez que fui recebido na Souza Cruz, me chamaram de mentiroso. Na época eles tinham 18 fumicultores e eu disse que arrumaria 20 em um ano. No fim da história consegui 52 agricultores que fizeram estufa de fumo, com galpão e tudo mais. Alí eu ganhei muito dinheiro. Eu vendia o tijolo, a madeira as telhas, tudo. Nessa época já era um armazém de secos e molhados, vendia de tudo. Eu ia à Porto Alegre, comprava tecido, tinha farmácia na época. Não faltava nada em Chapadão e o armazém era a referência da comunidade.
Quando você decidiu mudar o ramo dos negócios?
Altahaus – Um dia, estava subindo os morros de Chapadão com caminhão carregadao e o tempo estava para chuva. Vi aqueles morros vermelhos e pensei: está na hora de me desfazer disso aqui. Nisso um cara me pediu uma carona. Aí, dentro do caminhão, ele me disse que eu ganhava dinheiro fácil com o comércio. Eu disse: pode ser teu. Ele tinha uma casa em Lajeado e eu falei que poderia trocar. A casa valia o equivalente a R$ 50 mil. Pedi ela e mais duas parcelas de R$ 50 mil uma no próximo ano e a outra no seguinte, para vender tudo, o caminhão, o armazém e tudo o que estava dentro dele, de porteira fechada. Só pedi para usar o caminhão para tirar minhas coisas da casa. Até o dinheiro que tava no caixa ficou.
O senhor já era casado na época? Como foi a reação da família?
Altahaus – Cheguei em casa falei para minha mulher, a Iara, arrumar as coisas que eu tinha vendido a propriedade. Meu pai morava perto e dormimos na casa dele. No outro dia peguei minha caminhonete Rural e fui no Campestre. Na época não tinha água, luz, nada, era tudo interior. Comprei um pedacinho de terra naquela localidade e fiz uma casa. Assim foi o começo. Já tinha minha filha, com dois anos e era casado fazia anos. Minha esposa tinha muita confiança em mim.
Como começaram os loteamentos
Altahaus – Comprei uma área de terra em Estrela, onde é o aeroporto e troquei por aquela rua Roberto Fleischut. Deu 92 terrenos nos dois lados. Fiz três casinhas lá. Depois comprei a área que era do meu pai em Chapadão. Negociei essa área com o Miro Kunz, em troca de uma área no Alto do Parque, onde ele plantava trigo. Era um lugar isolado, que precisava ir pelo Carneiros para chegar. Fiz lotes dessa área e ganhei muito dinheiro.
Os negócios caminharam em uma alta constante?
Althaus – Não, eu também fui muito mal no meu negócio. O pior momento foi em 1985, 1986, com hiperinflação. O plano Funaro destruiu muita coisa e o Sarney foi o pior presidente da história desse Brasil. Naquela época, quem trabalhava era considerado burro, porque bom era viver de juros, ser agiota. Só que depois, todos esses que viviam de juros faliram. Quando o Collor assumiu e trancou o dinheiro, aquilo foi muito bom, porque evitou a especulação. Eu era para ter muito mais capital com os negócios que fiz, mas a inflação comeu muita coisa.
Quando o senhor começou, como era o mercado imobiliário de Lajeado?
Althaus – Tinha duas imobiliárias apenas, três com Antares. Loteadora era só eu. Vivi muita coisa fora da região, ia para São Paulo, Rio de Janeiro, Brasília, e vendia para esse pessoal que saiu de Nova Bréscia para abrir restaurantes. As pessoas que trabalharam comigo, todos eles hoje são loteadores. O Juca Richter encontrei na Alemanha e disse para voltar para o Brasil para trabalhar comigo. Teve o Paulo Pohl da Imojel, entre outros. Todo mundo se deu bem. Eu não enxergo ninguém como meu concorrente, porque o sol nasce para todos.
Quais são os legados que o senhor deixou para Lajeado que mais tem orgulho?
Althaus – São cinco: Jardim do Cedro, Montanha, Alto do Parque, Campestre e o Edifício Antares. São as coisas que mais chamaram a atenção das pessoas do município. Quando eu lancei o Edifício Antares, a maioria das pessoas dizia que o prédio nunca sairia, porque a inflação era alta. Foi difícil, mas terminamos ele. Lajeado não tinha prédios grandes e de alto padrão. Os loteamentos hoje são bairros com muitas pessoas. Dia desses, um senhor na Casa Americana me disse que eu fui muito feliz em não estragar a cidade, porque loteei ao redor. Eu não tinha me dado conta disso, mas é verdade.
O que fez o senhor ser um empreendedor de sucesso no ramo imobiliário?
Althaus – Em primeiro lugar ser honesto e sincero. São palavras-chave. Não tenho concorrentes e torço para que todos consigam ir bem, porque daí eu também estarei bem. Isso significa que a cidade está crescendo e as pessoas investindo, então todos podem se beneficiar. Hoje nós temos uma juventude muito inteligente e a Univates contribuiu muito. Temos uma juventude que constrói melhor do que construíamos no passado. Lajeado tem muitos prédios lindos.
O senhor também participou da política. Como foi essa experiência?
Althaus – Ganhei o Prêmio Alicerce de 1984 como político. Fui um fundador do MDB em Lajeado. Na época só tínhamos vereadores do PDT e PDS na cidade. Fizemos cinco vereadores do MDB, cinco do PDT e tinha nove do PDS. Então, formamos a maioria na Câmara. Eu tinha muita ligação em Brasília. Não tinha medo de falar com o Ulisses Guimarães ou com o Paulo Brossard. Como vereador, fiz duas legislaturas pelo MDB. Depois, quando entrou o dinheiro na Câmara, decidi parar. Hoje eu só leio sobre politica. Fiquei sabendo que cada comissão da Câmara de Lajeado tem um funcionário. Isso é o fim da picada. Antigamente, era por amor a camiseta.