Sabe aquele comentário que você ouviu e que te deixou incomodada, constrangida, ou diminuída por ser mulher, mas que muita gente considera normal? Você acabou de experimentar uma situação de micromachismo.
Antes de falarmos sobre, deixe-me explicar o que te espera aqui durante as próximas semanas. Neste que é considerado o mês das mulheres, você conhecerá a história de uma mulher forte e inspiradora por semana, até o fim de março, na nossa série “Sim, mulher pode!”. Motivada por ela, pensei em também fazermos uma série neste espaço, e falarmos sobre um tema importante sugerido por uma amiga na última semana: os micromachismos.
Para começar, você sabe identificar um micromachismo? Vamos lá, não é difícil.
Vamos pensar em uma situação hipotética. Você sai para trabalhar e, na primeira esquina, escuta uma cantada ou recebe uma “buzina elogiosa”. No ônibus, o homem ao lado abre as pernas e ocupa boa parte dos dois bancos. Você chega no trabalho e alguém pergunta se você está nervosa porque está “naqueles dias” ou porque o seu companheiro não te “ajuda” com as tarefas de casa. Quando você tenta explicar que as tarefas também são responsabilidade dele, recebe um longo discurso sobre como “não se fazem mais mulheres como antigamente”. Nesta situação, em apenas algumas horas você já passou por quatro micromachismos.
São “pequenos” gestos ou comentários, por vezes muito sutis, que estão tão interiorizados em nossa cultura, que nem percebemos o quanto são preconceituosos e nocivos. Alguns estudiosos, inclusive, consideram errado o uso do termo “micro”, ao argumentarem que este reduz o impacto destes gestos. Eles defendem a substituição pelo termo “machismo cotidiano”.
Os micromachismos são tão normalizados que ocorrem até mesmo entre nós, mulheres. Fomos educadas em um sistema que nos coloca umas contra as outras, o que nos leva a reproduzir este tipo de agressão. Só para dar alguns exemplos, são aquelas famosas “não gosto de trabalhar com mulheres pois são muito sentimentais”, ou “como ela está no bar, deixou os filhos com quem?”.
Eles parecem inofensivos, mas não são. As cantadas, a coisificação das mulheres, a tendência masculina a nos interromper, a naturalização da mulher sempre em papéis de cuidado. Todos são micromachismos que, apesar de não nos colocarem em perigo de forma direta, aprofundam a desigualdade e aos poucos vão justificando socialmente as violências mais brutais.