“Saber que eu ia virar pai salvou a minha vida”

Abre Aspas

“Saber que eu ia virar pai salvou a minha vida”

Felipe Ritter, 34, sofreu um grave acidente de carro em 2004. Foram seis meses em coma. Quando acordou, pensava que o melhor seria morrer. Afinal, tinha certeza que jamais voltaria a caminhar. Justo no momento mais difícil, veio a notícia: a namorada estava grávida. A chegada de Miguel representou a força que o funcionário do setor de rouparia do Centro Cirúrgico do Hospital Bruno Born precisava para enfrentar as sequelas. Foram 11 anos de tratamento até que em 2015 voltou a trabalhar e a praticar esportes.

“Saber que eu ia virar pai salvou a minha vida”
Lajeado

• Como foi o acidente?

Sinceramente eu lembro pouco. Eu havia começado a trabalhar no hospital poucos meses antes. Era um domingo, em novembro de 2004, alguns dias antes do meu aniversário. Lembro por que tinha Expovale. Após um plantão de 12 horas, fui para casa e resolvi sair. Acho que ia me encontrar com um amigo. Nas proximidades da rodoviária aconteceu. Foi culpa minha. Na verdade não sei, mas foi o que me falaram.
Quando acordei, estava respirando por um cano. Não caminhava, não falava. Pensei que nunca mais ia caminhar. Os movimentos mais simples eram impossíveis de fazer.

• Foram seis meses em coma. Como foi acordar?

Eu havia desistido. Gesticulava para minha mãe que não queria mais. Meu Deus, não queria continuar vivo. Daí veio o Miguel (filho), o meu Miguelito. Minha namorada ia me visitar no coma, e minha mãe viu que ela sentia enjoos. Disse para ela fazer o teste. Quando eu vi o barrigão, comecei a pensar. Foi aquele estalo, ele está chegando e vamos mudar essa história. Saber que eu ia virar pai salvou a minha vida.

• Como foi reaprender a falar, caminhar e ter uma vida praticamente normal?

Voltar ao trabalho foi uma vitória. Adoro esse lugar, sempre gostei. Hoje dou um valor muito maior a vida. Depois do acidente, as coisas mais simples ganharam importância. Caminhar, subir escadas, tudo é motivo para comemorar.

Ainda faço fisioterapia, consegui muitas coisas. Comecei a treinar Karatê. Não pensava em ser bom naquilo, apenas fazia para voltar a ter domínio dos meus movimentos. Mesmo assim cheguei na faixa roxa, duas antes da preta. Muito mais longe do que eu pensava em chegar. Mas tudo foi muito difícil. Eu sofri o acidente em 2004 e só voltei a trabalhar em 2015. Foram 11 anos reaprendendo tudo.

Os primeiros sete anos foram cruéis. Eu tava muito mal. A evolução era pequena e o corpo não respondia. Hoje me sinto muito bem. Vejo as pessoas reclamando, as vezes são coisas tão pequenas que eu olho e penso: não sabe de nada. Não sabe o que é dificuldade de verdade.

• O que mudou no Felipe em termos de visão de mundo depois do acidente?

Não há comparação. Mudou muito. Vejo hoje que o principal é a gente sempre evoluir. Sempre buscar ser melhor do que fomos ontem. Antes eu não tinha os motivos para lutar que tenho hoje. Não tinha filho, trabalhava para ter dinheiro e fazer festa, para gastar com lazer e diversão. Agora penso mais, procuro ser um pai presente e responsável. Quero dar condições para ele se desenvolver enquanto pessoa. Hoje ele tem 15 anos e sempre conversamos muito. Ele sabe de toda a minha história. Ele não fala, mas no olhar percebo que ele tem orgulho de mim.

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