• Como surgiu a ideia tocar na praça?
O cara se aposenta. A vida é fácil, mas você precisa ter uma ocupação. Como eu não gosto de jogar carta, a música é meu passatempo. Cada fim de semana eu toco nas igrejas, tanto católica como evangélica. No ano passado, a AMOR Centro (associação de moradores) estava fazendo cadastramento e pediram para alguém animar e eu vim. Toquei 30 dias a fio na praça.
• Como é a rotina aqui na praça?
Tudo é meu, tenho que puxar o fio de energia. O teclado é pesado, a caixa é pesada, mas é só o trabalho de se instalar, depois é fácil. O pessoal passa e puxa assunto. Eu toco uma e converso três.
• E o pessoal gosta?
A Caixa funcionava aqui na frente. O pessoal diz que a Caixa se mudou porque não aguentaram a minha música. Daí foram para um prédio novo (risos). Tem uma senhora idosa que mora aqui ao lado que diz: ‘como é bom quando você toca, eu durmo tão bem com a música’. E uma outra veio reclamar que eu estava tocando muito alto e ela não conseguia tirar sesta.
• Como começou a tocar?
No internato, aos 14 anos. A direção gostou tanto de mim que fui pro quartel e voltei para dar aula no colégio (atual Estrela da Manhã). Naquele tempo, a escola formava professores rurais, então tinha que ensinar disciplinas como Matemática, História, Português e também tinha Música. Hoje é misto, antes era só homem.
• O que representa a música na sua vida?
É uma terapia. A música preenche os espaços vagos. Quando você não tem o que fazer, fica matutando e pensando em coisas tristes, a música te distrai. Você fica duas horas tocando, lendo partitura, cansa o cérebro, mas não com coisas ruins. A mente tem que ficar atenta à música, então ocupa a mente.
• Que outros instrumentos o senhor toca?
Trombone e violão. Me dá um violão e eu acompanho qualquer banda a noite inteira. O trombone já não toco mais, porque com o tempo a gente perde a embocadura. Aprendi o trombone no exército. Fui a São Gabriel para servir. Eles perguntavam o que cada um sabia fazer. Na minha vez falei que era músico. Me deram uma passagem de trem, fardado de milico, me mandaram de São Gabriel e Bagé, para me apresentar na banda. Servi um ano. De dia, ficava só na banda. E de noite, dava aula de matemática, no Ginásio, fardado.
• Seu outro passatempo é correr. Como começou?
A música distrai a mente e faz pensar. Mas você tem que cuidar do corpo. Tem que comer certo, não tomar muita cachaça, não comer muito açúcar, nem muito sal e se movimentar. Eu pratico corrida e academia. Já corri todas rústicas que tem por aí, Estrela, Lajeado, Arroio do Meio, Porto Alegre. Em todas eu subo no pódio. As provas são por faixa etária e depois dos 60, 70 não tem ninguém que corre. Posso chegar em último que estou no pódio.