Lição de cooperativismo para o estado e o país

Energia e desenvolvimento

Lição de cooperativismo para o estado e o país

Certel e Sicredi unem forças e marcam na história. Pela primeira vez, cooperativas de crédito e de infraestrutura trabalham juntas para construir uma hidrelétrica. Assinatura do contrato ocorreu ontem, durante as comemorações pelo 64 anos da Certel

Lição de cooperativismo para o estado e o país
Presidente da Certel, Erineo Hennemann, enalteceu a participação dos associados. Para ele, essa proximidade é fundamental para os resultados positivos de 2019. Créditos: Filipe Faleiro
Vale do Taquari

A construção da nova usina no Rio Forqueta para gerar energia tem diversos impactos. Está no simbolismo de ser um complexo da Certel construído com recursos de outra organização local. De mostrar ao Estado o potencial de desenvolvimento regional e, sobretudo, representar a garantia de que o plano de um Vale do Taquari autosuficiente na geração de energia está nos trilhos.

Esse é um resumo dos discursos que marcaram a comemoração dos 64 anos da Certel. O ponto alto foi a parceria histórica entre a cooperativa de infraestrutura com as de crédito Sicredi (Ouro Branco, Integração RS/MG, Região dos Vales e Botucaraí).

Na ocasião, ocorreu a assinatura do contrato de financiamento à construção da hidrelétrica Vale do Leite. O investimento de R$ 45 milhões confirma a instalação. O evento ocorreu ontem, no CTG Tropilhas da Serra, em Pouso Novo.

A cerimônia teve presença de diversas autoridades políticas dos municípíos, do Estado, além de empresários, integrantes de instituições de classe e associados da cooperativa. “Esse é um momento de comemoração. Mostra como a Certel se tornou uma instituição progressista e cooperativista”, frisa o superintendente da Certel, Ilvo Poersch.

Responsável pela abertura dos discursos, Poersch destacou a importância de uma organização compromissada com a região. Na avaliação dele, o planejamento da cooperativa indica que o futuro será de mais conquistas e avanços.

Em nome das Sicredi, o presidente da Ouro Branco (Teutônia), Neori Erenani Abel, especificou o sentido do intercooperativismo. “Se trata de recursos da região usados para o desenvolvimento interno”, diz.

Além do financiamento para a nova hidrelétrica, a programação teve também a entrega da licença prévia para o início das escavações da unidade, a confirmação do convênio de R$ 10 milhões com o Banco Regional de Desenvolvimento (BRDE) para investimento na melhoria da transmissão de energia e para projetos voltados a fontes de energia alternativas.

“Temos de pensar grande”
A usina fica entre os municípios de Pouso Novo e Coqueiro Baixo. O inventário do Rio Forqueta, feito nos anos 2000, indica a possibilidade do curso d’água ter sete Pequenas Centrais Hidrelétricas (PCH). Duas estão em funcionamento, em Salto Forqueta (São José do Herval e Putinga), e a Rastro de Auto (nas áreas de Putinga e São José do Herval).

Conforme Mallmann, com a geração de energia garantida, é preciso ter infraestrutura de transmissão, instalações que podem ocorrer antes para evitar gastos posteriores. “Temos de pensar grande. Por isso o planejamento da Certel é feito para criar soluções em médio e longo prazo”, avalia o diretor operacional da Certel, Ernani Mallmann.

Desafios e oportunidades

Erineo Hennemann (e) recebeu de Marjorie e Pereira a licença prévia

O diretor Ermani Mallmann relembra o processo para conseguir liberação ambiental de obras para gerar energia. “O maior gargalo é a burocracia. Por muito tempo, a lei foi muito engessada. Eram necessárias adequações constantes nos projetos. Se entregava um documento, depois outros eram solicitados.”

De acordo com ele, essas idas e vindas tornavam a confirmação dos empreendimentos demoradas e cansativas. Com a aprovação do novo Código Ambiental do RS pela Assembleia Legislativa, em dezembro passado, houve avanços nesses procedimentos, afirma Mallmann.

“O código facilita pois trouxe regras que normalizam execuções. Hoje temos o norte do que é necessário para fazer o empreendimento”, diz.
A presidente da Fepam, Marjorie Kauffmann, enaltece a importância do desenvolvimento acompanhar o respeito ao ambiente. Frente às discussões do novo código ambiental, reforça a necessidade de desburocratizar o processo, tornando mais ágeis e claras as normas.

No discurso, a representante da fundação enalteceu a importância da Certel com o desenvolvimento gaúcho e agradeceu o apoio da cooperativa nas discussões sobre as mudanças na lei e o apoio à proposta do Piratini.

A vinculação entre desafios para a produção de energia e oportunidades pode ser confirmada a partir do diagnóstico do Ministério de Minas e Energia. Conforme o presidente da Certel, Erineo Hennemann, até 2029 o consumo de energia no país crescerá quase 30%, o que equivale a quatro usinas de Itaupu.

“Essa estimativa é um indicativo de que estamos no caminho certo.” Na avaliação de Erineo, o Vale do Taquari tem condições de ser autossuficiente na produção de energia. Ter hidrelétricas locais signfica menos dependência do sistema nacional. “A cada megawatt produzido aqui, é menos gasto de energia das usinas do centro do país, que muitas vezes são de fontes não renováveis”, realça Hennemann.

Entrevista

Paulo Roberto Dias Pereira
• Secretário adjunto do Meio Ambiente e Infraestrutura do RS

“É um projeto de ouro para o estado”

Representando o governador Eduardo Leite, o secretário adjunto afirma que a hidrelétrica Vale do Leite é uma obra prioritária dentro do Piratini. De acordo com ele, o andamento das etapas de liberação do empreendimento serão acompanhadas para que atendam os prazos estabelecidos pela Certel.

A Hora – A cooperativa apresenta à sociedade gaúcha a sua nova hidrelétrica. A partir disso, no que o planejamento da Certel se alia ao plano do Piratini de tornar o setor energético um propulsor do desenvolvimento?

Paulo Roberto Dias Pereira – O governador Eduardo Leite e o secretário Artur Lemos Júnior estão hoje (ontem) no Rio de Janeiro. Entre os assuntos, estão tratando sobre energia. A Marjorie e eu estarmos aqui nos 64 anos da Certel não é mera conicidência. Desde a formulação do plano de governo, sempre esteve presente a certeza de que o setor de energia no RS é uma forma de desenvolver o estado.

– Em que aspecto?
Pereira – Por meio do estudo sobre as vocações regionais, temos o Vale do Taquari com potencial para geração de energia. Há modelos possíveis. O primeiro com as fontes hídricas, como no caso dessa usina, e também por meio da biomassa e dos biocombusiveis. Esse planejamento do Estado visa fortalecer esses aspectos de cada região. Para o Vale do Taquari, o projeto é trazer desenvolvimento garantindo a proteção do meio ambiente.

– Sobre a importância do cooperativismo. No Vale, mais de 85% da população tem alguma associação a entidades nesse conceito. Como o governo avalia essas organizações para o Estado?

Pereira – O governo por si só não gera riquezas. O que ele pode fazer é desenvolver com a população, com os empreendedores, os marcos para o desenvolvimento e a preservação. As cooperativas, por excelência, são forças colaborativas nesse processo.

Para a região, com a licença prévia da hidrelétrica, essa obra passa a ser uma prioridade no estado. É uma obra de utilidade pública com baixo impacto ambiental. O projeto prevê a diminuição na redução de carbono. É um empreendimento para gerar energia e preservar a natureza. Um projeto de ouro para o estado e que vamos monitorar passo a passo para entrar em operação dentro da data prevista.

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