“Naquela época, existiam apenas três trailers de cachorrão na cidade”

Abre Aspas

“Naquela época, existiam apenas três trailers de cachorrão na cidade”

Odacir Antônio Capitanio tinha um trailer de lanches em Veranópolis e dava aulas como contabilista. No fim de 1977, veio a Lajeado em férias. Parou em um trailer para tomar uma água, fez uma proposta e comprou o estabelecimento. Hoje com 66 anos, trabalha faz 42 na Praça da Matriz.

“Naquela época, existiam apenas três trailers de cachorrão na cidade”
Lajeado

• Por qual motivo você veio para Lajeado?

Me mudei em janeiro de 1978, em função do meu trabalho. Antes disso eu tinha um trailer em Veranópolis, onde eu dava aulas de contabilidade também. Eu estava de férias da escola. Aí passei em frente a Igreja da Matriz, tomei uma água e perguntei para o dono de um trailer se ele queria vender. Ele disse: “vendo”. Eu perguntei: “quanto você quer?”. Aí ele falou o valor e eu perguntei quando ele poderia entregar. Falou que trabalharia até 15 de janeiro. Aí 16 de janeiro eu assumi.

• Mas o trailer estava à venda ou você fez a proposta?

Eu acho que ele queria vender, mas não tinha nenhuma placa. Casualmente eu falei com o cara e ele vendeu. Voltei a Veranópolis e falei que não iria mais lecionar e me dedicaria ao trailer.

• Existiam outros trailers?

Naquela época, existiam apenas três trailers de cachorrão na cidade. Depois, começaram a surgir outros estabelecimentos. Na escola haviam mais de 3 mil alunos, que estudavam nos três turnos. Não tinha segundo grau fora de Lajeado, em nenhuma cidade próxima. Aí o movimento era enorme no trailer.

• Como era a Praça da Matriz?

Era bem diferente de hoje. Tinha até um mini-zoológico dentro, com animais diversos. Com o passar do tempo, eles tiraram da praça. Deram uma reformada nela, deixando do jeito que está hoje. Antes tinha muito mais árvores e muito mais crianças frequentavam as praças. Naquela época não tinha consumo de drogas aqui. As famílias vinham com os filhos, faziam lanche. Era o ponto principal da cidade.

• Quantos sabores de pastel existiam?

Antes só tínhamos um sabor de pastel, o de carne. Hoje são uns 120 sabores. Fomos incrementando aos poucos, criando com o tempo. E ainda queremos criar novos sabores.

• Lembra de alguma história inusitada que tenha presenciado?

Aconteceu tanta coisa. No estabelecimento, vi surgirem muitos namoros, casamentos, muitas pessoas acabaram se conhecendo aqui e formaram famílias. Até hoje algumas vem aqui, trazem os filhos. E há clientes que frequentam o estabelecimento desde quando eu abri.

• Quando o senhor tira férias, dá reclamação?

Sim, chegam a ligar para saber por que está fechado. Semana passada, eu estava de férias em Gramado e teve um cliente que ligou para o meu celular para fazer um pedido.

• O que você pensa em relação ao futuro do estabelecimento?

Eu estou aposentado, mas não me vejo parando de trabalhar. Vou seguir trabalhando até onde conseguir. Quando eu fico dois dias sem trabalhar não sei o que fazer. Me sinto bem aqui. E tem o Diego, meu filho. Ele começou a trabalhar com 14 anos, está com 38. Se um dia eu parar, ele vai continuar.

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