Pão e circo

Opinião

Ney Arruda Filho

Ney Arruda Filho

Advogado

Coluna com foco na essência humana, tratando de temas desafiadores, aliada à visão jurídica

Pão e circo

Não é de hoje que me espanto com a capacidade do ser humano se mobilizar em torno de um objetivo ou tema ligado a alguma crença ou mesmo a alguma forma de entretenimento. Uma quantidade enorme de pessoas se mobiliza para peregrinações e romarias, orando e venerando lugares e imagens. Crença, religião, fé, mitologia, razões que a razão não explica. Outras tantas, penso que em muito maior número, se reúnem para festivais de música, para o Carnaval, em especial nos estados do nordeste, para celebrar, dançar, pular, beber e sabe-se lá o que mais.
Essa capacidade de mobilização me fez recordar as aulas de História do ensino médio e a chamada política do “pão e circo” (panem et circenses, no original em latim). Tal política consistia no modo com o qual os líderes romanos lidavam com a população em geral, para mantê-la fiel à ordem estabelecida e conquistar o seu apoio. A frase tem origem na Sátira X, do humorista e poeta romano Juvenal (ano 100 d.C.) e no seu contexto original, criticava a falta de informação do povo romano, que não tinha qualquer interesse em assuntos políticos e só se preocupava com o alimento e com o divertimento. Com a gradual expansão, o Império Romano tornou-se um estado rico, cosmopolita e sua capital, Roma, tornou-se o centro de praticamente todos os acontecimentos sociais, políticos e culturais na época de seu auge. Isso fez naturalmente com que a cidade se expandisse, com gente vindo das mais diferentes regiões em busca de uma vida melhor. Comida e diversão. Pessoas humildes e de poucas condições financeiras iam se acotovelando nas periferias de Roma, em habitações com conforto mínimo, espaço reduzido, de pouco ou nenhum saneamento básico e que eram exploradas em empregos de muito trabalho braçal e pouco retorno financeiro. Esses ingredientes, em qualquer sociedade são perfeitos para detonar revoltas sociais de grandes dimensões. Para evitar isso, os imperadores optavam por uma solução paliativa, que envolvia a distribuição de cereais e a promoção de vários eventos para entreter e distrair o povo dos problemas mais sérios que assolavam a sociedade romana. Decadência dos valores familiares, corrupção das instituições, violência urbana.
Mas isso é passado! Aconteceu lá no Império Romano, quando não havia meios de comunicação, a sociedade da informação não existia, nem internet, nem Facebook, nem Instagram. Hoje é diferente, o governo não nos engana mais, não tem mais corrupção. A gente sai pra rua pra adorar uma imagem ou pra dançar e pular. E fica em casa, no computador ou no celular, metendo pau em quem pensa diferente. Não é mais “pão e circo”. Agora é “religião, Carnaval e internet”.

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