As mudanças inéditas e profundas aprovadas nesta semana devem ser apenas o início de uma ampla transformação a qual o RS precisa passar. Não podemos mais perder tempo discutindo interesses da minoria e comprometer a sustentabilidade financeira e econômica da maioria dos gaúchos. E o funcionalismo há de compreender e aceitar, ainda que as reformas sejam amargas.
Não haveria de ser pacífico promover reformas estruturais no Estado. Não por acaso, as recentes tentativas de governadores passados bateram na trave e não superaram a pressão das galerias do Legislativo. Por isso mesmo, a aprovação do pacote de medidas proposta por Eduardo Leite é histórica, mesmo que tenha tido remendos e alterações.
As últimas duas semanas foram de tensão, negociação, protestos e debates. Aliás, com greves e protestos nos acostumamos desde a década de 70 sem que saibamos descrever, com clareza e precisão, os avanços que colhemos desde então.
O mês de janeiro termina com inegável avanço para um estado que precisa tomar medidas amargas para sair da letargia e do marasmo financeiro. Deixar tudo como está seria ignorar um sintoma de depressão profunda que nos levaria para uma paralisação total.
O custo da máquina pública do Rio Grande do Sul já nos tira a competitividade em relação a estados emergentes, como Santa Catarina e Paraná, para citar os mais próximos. É preciso agir e pagar o preço – que não é pequeno – para recolocar o estado numa rota desenvolvimentista, capaz de segurar as empresas e, oxalá, atrair novos empreendimentos. Ou simplesmente, retomar a capacidade de pagar em dia os servidores públicos.
A ira do funcionalismo, expressada em greves e passeatas, é compreensível. Ninguém gosta de perder eventuais gratificações ou benefícios, muito menos para uma categoria que já ganha salário parcelado. Mesmo assim, não há saída. É imprescindível manter a agenda de reestruturação da máquina.
Eduardo Leite mostra disposição em pagar o preço político e seguir com as reformas estruturais. Desde a campanha eleitoral, Leite elegeu a reforma do Estado como prioridade. Ao fim do primeiro ano do seu governo, conseguiu avanços fundamentais e imprescindíveis para nosso estado voltar a ser sustentável e começar a reconstruir um caminho de competitividade. Do jeito que está não pode ficar.
Questão de coerência
Lembro até hoje da imagem na capa do jornal Zero Hora – por isso jornal vale como documento – onde aparece o ex-governador José Ivo Sartori em frente a um telão que refletia a palavra calamidade. O gringo da Serra foi pioneiro em desnudar e reconhecer o estado calamitoso das contas públicas do RS. Falou e repetiu tantas vezes que chegou a ser deprimente ouvi-lo, ainda que a realidade era – e continua sendo – de calamidade. Quando decidiu falar abertamente, sem devaneios sobre a situação, Sartori começou a pavimentar o caminho que hoje é percorrido por Leite. Querendo ou não, para fazer as reformas, era necessário que os gaúchos tomassem ciência da gravidade das coisas e se indignassem a não continuar alimentando um Estado falido.
Sempre os interesses
Em Teutônia, a eleição da mesa diretora, no fim do ano passado, continua alimentando divergência entre os vereadores. Hélio Brandão encaminha documentos nos quais cita um acordo assinado no primeiro ano da Legislatura, que lhe garantia a presidência neste ano. “Estes acordos já são históricos. Só que este ano me puxaram o tapete e descumpriram o acordo. Isso é vergonhoso”, desabafou à coluna esta semana. Certo ou errado, o fato é que a campanha eleitoral já começou, e como sempre, acordos ou acertos do “fio do bigode” sucumbem diante do interesse eleitoreiro. Infelizmente é assim.