Na edição do A Hora de dois domingos atrás, neste espaço o Prof. Ney Lazzari, reitor da Univates, publicou o Artigo “Apagão da mão de obra”. Como economista, com maestria abordou a necessidade da retomada do crescimento econômico, após meio século de estagnação. Sem medo de se posicionar, indicou os princípios básicos para tal, dentre os quais pinço a disponibilidade de mão de obra. O viés da abordagem não é o desemprego por si só – ainda expressivo e o flagelo de 12 milhões de pessoas –, mas quantas delas há em condições de atender à necessidade dos empregadores. Dado importante revelado pelo Professor Ney: no Brasil há cerca de 2 milhões de vagas não preenchidas por não haver pessoas qualificadas para ocupá-las. Em 2030 poderão ser 6 milhões de vagas não ocupadas pelo mesmo motivo.
Isto denota outra questão, latente: a falta de profundidade dos agentes econômicos e sociais na análise de fatores determinantes nas suas áreas de atuação, com prejuízos na efetividade das suas ações. Exemplificando: na coluna da economista Marta Sfredo, (Zero Hora de domingo passado) é tratado o mesmo tema – desemprego – só que com menos profundidade, atendo-se à lentidão prevista na sua queda. Na mesma linha, a grande imprensa vai nas filas do Sine (Sistema Nacional de Emprego) entrevistar os demandantes, muito mais pelo seu desconforto de estarem ali – lastimável, sem dúvida. Contudo, bom seria o repórter olhar os currículos que os desempregados apresentam e, por ali, dissecar a deficiência que transparece: o despreparo para as vagas ofertadas. Aí, uma das deficiências. Quem tem o poder da comunicação e da mobilização, não aprofunda a análise e, por isto, não responsabiliza e não motiva os agentes que poderiam atuar na busca da solução.
O universo destes agentes é amplo: entidades empresariais, de trabalhadores e de produtores rurais, Sistema S (Senai, Sebrae, Senar, Sescoop), ensino público e privado, Governos municipal, estadual e federal, dentre outros. A capacitação é fornecida, mas sem a precisão do que o mercado necessita. Há cerca de quinze anos participei de trabalhos neste sentido em municípios do Vale do Taquari e numa amplitude regional. O que se constatou era muito diferente da realidade que se conhecia, o que gerou bons resultados no trabalho que derivou, em conjunto com estes entes que citei. Só que, sem continuidade, porque sem o comprometimento de uma coordenação regional perene.
A questão merece destaque porque disponibilidade e absorção da mão de obra são basilares para girarmos a roda do desenvolvimento, além de que, dos fatores econômicos envolvidos, é o que mais mexe com pessoas. Também porque desnuda outras facetas e equívocos como: o empreendedorismo privado é vital, mas precisa ser apoiado nas suas necessidades; não é só do Poder Púbico a responsabilidade única de fazer as coisas acontecer, sob o manto da omissão da iniciativa privada; a relevância de a sociedade ser bem informada; as soluções não dependem só de quem está ao nosso lado mas de nos também; a falta que faz uma coordenação estadual, municipal e regional – efetiva e profissional – que potencialize esforços e recursos dos agentes econômicos e sociais. Sob um olhar regional, são muitas as iniciativas que ajudam o Vale do Taquari a ser um local bom de se viver. Contudo, a continuidade desta caminhada pede convergência cada vez maior destas ações, com eficiência e eficácia.
Um novo ano é um bom marco temporal para reposicionamentos. Neste 2020, especialmente, temos eleições municipais. Um bom exercício para uma sociedade organizada, pois os municípios são a célula mater do tecido econômico-social.
Opinião
Ardêmio Heineck
Empresário e consultor
Assuntos e temas do cotidiano