A virada do ano foi dramática para a família de Jandir Luis Ferabolli. Moradores de Linha São Luiz, em Encantado. Em menos de 24 horas, o agricultor viu parte da produção morrer e a outra parte desidratar e perder peso. Como resultado, prejuízo no orçamento familiar.
Tudo por conta da falta de energia entre o fim da tarde do dia 31 de dezembro até a manhã do dia 1º. O aviário agora ficou vazio. “Carreguei os que sobreviveram e os que morreram enterrei.” De acordo com o agricultor, além da morte de parte da produção, muitos perderam peso, o que interfere na venda para o frigorífico.
Segundo ele, a falta de energia é recorrente na localidade. Desta vez foi um dia, mas já ficaram cinco sem energia. “É humilhação pra gente. Porque é coisa da idade da pedra lascada ficar três, quatro dias sem luz como já aconteceu.”
Pelo problema ocorrer com tamanha frequência, ele pensa em abandonar a atividade. “Tem meses que ficamos quatro dias sem luz. Não é de ficar uma hora. É a noite inteira. A gente trabalha o dia inteiro, chega em casa que nem bicho. Não tem luz, não tem água pra tomar um banho nem uma televisão para assistir. O negócio é pegar um pedaço de pão, uma vela e ir dormir.”
O agricultor critica a RGE. Reclama que não adianta contatar. “Nunca temos uma resposta, uma previsão. Os funcionários que nos atendem nunca sabem de nada”, diz. Além das perdas na produção, Jandir teve prejuízos em equipamentos também. O gerador estragou devido a sobrecarga.
“É proibido ventar”
De acordo com o presidente do Sindicato dos Trabalhadores Rurais de Encantado e Doutor Ricardo, Gilberto Zanatta, os últimos dias foram de prejuízos para a região alta do Vale. Diversas localidades tiveram oscilações no abastecimento de energia. As perdas ainda estão sendo calculadas.
Conforme Zanatta, a avicultura é a primeira atividade a sentir os impactos da falta de energia. Mas a produção de leite também é impactada. Mesmo os produtores tendo geradores, não é suficiente para manter 100% da produção, afirma.
Ontem houve reunião entre produtores e líderes sindicais. “Fizemos contatos com agentes políticos e vamos nos organizar. Vamos acionar o Procon e estamos orientando os produtores a ingressarem na Justiça.”
Sobre as frequentes quedas de luz relatadas pelo produtor de Linha São Luiz, Zanatta reforça: “é proibido vendar. Qualquer mudança no tempo, uma chuva, o interior fica sem energia.” O presidente do STR reafirma as críticas quanto ao atendimento ao cliente.
Na avaliação dele, a RGE não dispõe de uma equipe para manutenções rápidas, como a religação. “Por vezes esperamos dias até chegar algum funcionário para tirar um galho da rede elétrica.” Para ele, o meio rural é deixado de lado. “A concessionária está atenta às regiões urbanas, mas o campo é um descaso.”
A RGE informou a reportagem que enviará uma equipe para realizar uma inspeção da rede na região.
