O produtor assiste a lavoura de milho secar, dia após dia. Olha para o céu e torce pela chuva. Que não vem. Na propriedade de João Luiz Dick, o prejuízo estimado já está entre 30% e 40%. Ele plantou 12 hectares em Nova Santa Cruz, no município de Santa Clara do Sul. Em anos de safra normal, ele tira cerca de 300 sacas por hectare. Este ano, o rendimento não chega a 200 sacas.
“O lucro foi quase todo”, lamenta o produtor. “E o aluguel a gente tem que pagar, colhendo ou não”, completa a esposa, Izilote. Parte das terras são alugadas, o que custa 20% da produção, pagos para o proprietário.
O que foi plantado em agosto, ainda se salva, em parte, com menos qualidade. Os hectares semeados em novembro estão em risco. Nos oito hectares plantados recentemente, apenas em semente, o investimento de Dick foi de R$ 5 mil.
A previsão do tempo indica calor forte até a metade da próxima e semana e a possibilidade de chuva no domingo e na terça-feira, porém em volumes pouco expressivos. De acordo com o Núcleo de Informações Hidrometeorológicas (NIH) da Univates, o verão deve ter nível de chuvas abaixo da média.
Na quinta-feira, um recorde. A temperatura chegou a 39,9 ºC em Lajeado. Foi a maior temperatura já registrada pelo NIH, desde 2003, quando o núcleo foi criado. Em Teutônia, os termômetros marcaram 40,4 ºC.
Em Marques de Souza, um poço que abastece as linhas Atalho e Tigrinho está praticamente seco. Desde quarta-feira, a vazão está baixa. O poço abastece cerca de 50 famílias. Para mitigar as dificuldades, governo municipal está fornecendo água para a comunidade local.
No bairro Conventos, em Lajeado, o Arroio das Antas ficou praticamente seco.
Perda média de 20% na região
O excesso de calor e o tempo seco impactam diretamente na produção. “O milho é o cultivo de grãos mais expressivo do Vale do Taquari, então é onde vai ter maior impacto.
Caso o cenário se mantenha ao longo do verão, a soja também deve ser afetada”, afirma Derli Bonine, assistente técnico do setor de culturas da Emater. De acordo com a Emater, a média das perdas no Vale do Taquari é de cerca de 20%.
Excesso e escassez
Em 2019, as condições do tempo dificultaram o trabalho dos produtores em dois momentos. Em outubro, choveu acima da média histórica. A chuva seguiu até metade do mês de novembro, atrasando a semeadura.
As lavouras plantadas em novembro estão em fase de crescimento e agora sofrem com o problema inverso: a falta de chuva.
“O ciclo do milho vai de agosto até o inicio de novembro. Choveu excessivamente e isso fez com que algumas lavouras tivessem um bom desenvolvimento e outras fossem prejudicadas. O milho que foi plantado mais tarde terá grandes perdas”, explica Bonini.
Mais de 50% em perdas
Canudos do Vale é um dos municípios mais impactados pela estiagem. A estimativa de perda é de pelo menos 50%, de acordo com o secretário de agricultura, Marcos Schmidt.
Todos os anos, o governo municipal disponibiliza para a colheita do milho três tratores próprios e outros três contratados. Este ano, não foi necessário contratar máquinas terceirizadas. Não há lavoura suficiente e a colheita teve de ser antecipada.
“Até o dia 10, vamos fazer o que tiver de silagem. O resto tá morrendo sem botar espiga. Estamos apressando para não perder, porque está secando tudo”, relata Schmidt. A falta de chuva dificulta também a aplicação da ureia.
Impacto no leite
Os prejuízos nas lavouras de milho começam a impactar a produção leiteira. Com o excesso de calor, a silagem fica de baixa qualidade e as pastagens não crescem. Para o assistente técnico para área animal da Emater, Martin Schmachtenberg, ainda não há como quantificar os prejuízos.

Arroio das Antas, no bairro Conventos, está praticamente seco
“Para uma silagem de qualidade, a gente quer que o grão maduro e o pé verde. O que está ocorrendo é o contrário. A planta está queimando de baixo pra cima e o grão está murcho. O reflexo será percebido quando formos alimentar os animais”, diz Schmachtenberg.
Além disso, o calor também afeta diretamente os animais. As vacas se alimentam menos e produzem menos leite. O estresse causado pelo desconforto térmico é outro fator que reduz a produtividade na cadeia leiteira.
Prejuízos para 2020
Para o secretário de Agricultura de Estrela, José Adão Braun, o prejuízo é notável. “Vamos sentir mais o prejuízo a partir do ano que vem. Terá repercussão na economia dos municípios, na arrecadação de impostos e na renda dos produtores”, projeta.
“Vamos sentir mais o prejuízo a partir do ano que vem. Terá repercussão na economia dos municípios, na arrecadação de impostos e na renda dos produtores”, projeta. Braun prevê um aumento grande no preço do milho e da soja no mercado, o que vai criar dificuldade dos produtores de aves e suínos.
Produtores acionam seguro
Em função dos prejuízos causados pela estiagem, já há produtores vinculados ao Programa Nacional de Fortalecimento da Agricultura Familiar (PRONAF), acionaram o seguro Proagro Mais. A partir da próxima semana, o Sindicato dos Trabalhadores Rurais (STR) começa a fazer laudos das perdas.
“A gente pede para os produtores fazerem registro, foto. Que chamem o sindicato e a Emater para registrar as perdas
na lavoura de milho, para tentar a reduçãonno custo da semente”, diz LianenBrackmann, presidente do STR de Teutônia e Westfália.
MATHEUS CHAPARINI – matheus@jornalahora.inf.br
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