Estiagem já compromete a produção em até 50%

Calorão

Estiagem já compromete a produção em até 50%

Previsão indica que período terá chuva abaixo da média. Em Canudos do Vale, perdas já representam quase a metade da produção local. Prejuízo médio no Vale é de 20%

Estiagem já compromete a produção em até 50%

O produtor assiste a lavoura de milho secar, dia após dia. Olha para o céu e torce pela chuva. Que não vem. Na propriedade de João Luiz Dick, o prejuízo estimado já está entre 30% e 40%. Ele plantou 12 hectares em Nova Santa Cruz, no município de Santa Clara do Sul. Em anos de safra normal, ele tira cerca de 300 sacas por hectare. Este ano, o rendimento não chega a 200 sacas.

“O lucro foi quase todo”, lamenta o produtor. “E o aluguel a gente tem que pagar, colhendo ou não”, completa a esposa, Izilote. Parte das terras são alugadas, o que custa 20% da produção, pagos para o proprietário.
O que foi plantado em agosto, ainda se salva, em parte, com menos qualidade. Os hectares semeados em novembro estão em risco. Nos oito hectares plantados recentemente, apenas em semente, o investimento de Dick foi de R$ 5 mil.

A previsão do tempo indica calor forte até a metade da próxima e semana e a possibilidade de chuva no domingo e na terça-feira, porém em volumes pouco expressivos. De acordo com o Núcleo de Informações Hidrometeorológicas (NIH) da Univates, o verão deve ter nível de chuvas abaixo da média.

Na quinta-feira, um recorde. A temperatura chegou a 39,9 ºC em Lajeado. Foi a maior temperatura já registrada pelo NIH, desde 2003, quando o núcleo foi criado. Em Teutônia, os termômetros marcaram 40,4 ºC.
Em Marques de Souza, um poço que abastece as linhas Atalho e Tigrinho está praticamente seco. Desde quarta-feira, a vazão está baixa. O poço abastece cerca de 50 famílias. Para mitigar as dificuldades, governo municipal está fornecendo água para a comunidade local.

No bairro Conventos, em Lajeado, o Arroio das Antas ficou praticamente seco.

Perda média de 20% na região
O excesso de calor e o tempo seco impactam diretamente na produção. “O milho é o cultivo de grãos mais expressivo do Vale do Taquari, então é onde vai ter maior impacto.

Caso o cenário se mantenha ao longo do verão, a soja também deve ser afetada”, afirma Derli Bonine, assistente técnico do setor de culturas da Emater. De acordo com a Emater, a média das perdas no Vale do Taquari é de cerca de 20%.

Excesso e escassez
Em 2019, as condições do tempo dificultaram o trabalho dos produtores em dois momentos. Em outubro, choveu acima da média histórica. A chuva seguiu até metade do mês de novembro, atrasando a semeadura.

As lavouras plantadas em novembro estão em fase de crescimento e agora sofrem com o problema inverso: a falta de chuva.

“O ciclo do milho vai de agosto até o inicio de novembro. Choveu excessivamente e isso fez com que algumas lavouras tivessem um bom desenvolvimento e outras fossem prejudicadas. O milho que foi plantado mais tarde terá grandes perdas”, explica Bonini.

Mais de 50% em perdas
Canudos do Vale é um dos municípios mais impactados pela estiagem. A estimativa de perda é de pelo menos 50%, de acordo com o secretário de agricultura, Marcos Schmidt.

Todos os anos, o governo municipal disponibiliza para a colheita do milho três tratores próprios e outros três contratados. Este ano, não foi necessário contratar máquinas terceirizadas. Não há lavoura suficiente e a colheita teve de ser antecipada.

“Até o dia 10, vamos fazer o que tiver de silagem. O resto tá morrendo sem botar espiga. Estamos apressando para não perder, porque está secando tudo”, relata Schmidt. A falta de chuva dificulta também a aplicação da ureia.

Impacto no leite
Os prejuízos nas lavouras de milho começam a impactar a produção leiteira. Com o excesso de calor, a silagem fica de baixa qualidade e as pastagens não crescem. Para o assistente técnico para área animal da Emater, Martin Schmachtenberg, ainda não há como quantificar os prejuízos.

 

Arroio das Antas, no bairro Conventos, está praticamente seco

Arroio das Antas, no bairro Conventos, está praticamente seco

“Para uma silagem de qualidade, a gente quer que o grão maduro e o pé verde. O que está ocorrendo é o contrário. A planta está queimando de baixo pra cima e o grão está murcho. O reflexo será percebido quando formos alimentar os animais”, diz Schmachtenberg.

Além disso, o calor também afeta diretamente os animais. As vacas se alimentam menos e produzem menos leite. O estresse causado pelo desconforto térmico é outro fator que reduz a produtividade na cadeia leiteira.

Prejuízos para 2020
Para o secretário de Agricultura de Estrela, José Adão Braun, o prejuízo é notável. “Vamos sentir mais o prejuízo a partir do ano que vem. Terá repercussão na economia dos municípios, na arrecadação de impostos e na renda dos produtores”, projeta.

“Vamos sentir mais o prejuízo a partir do ano que vem. Terá repercussão na economia dos municípios, na arrecadação de impostos e na renda dos produtores”, projeta. Braun prevê um aumento grande no preço do milho e da soja no mercado, o que vai criar dificuldade dos produtores de aves e suínos.

Produtores acionam seguro
Em função dos prejuízos causados pela estiagem, já há produtores vinculados ao Programa Nacional de Fortalecimento da Agricultura Familiar (PRONAF), acionaram o seguro Proagro Mais. A partir da próxima semana, o Sindicato dos Trabalhadores Rurais (STR) começa a fazer laudos das perdas.

“A gente pede para os produtores fazerem registro, foto. Que chamem o sindicato e a Emater para registrar as perdas
na lavoura de milho, para tentar a reduçãonno custo da semente”, diz LianenBrackmann, presidente do STR de Teutônia e Westfália.
seca

MATHEUS CHAPARINI – matheus@jornalahora.inf.br

COLABORAÇÃO
FILIPE FALEIRO – filipe@jornalahora.inf.br
FERNANDO WEISS – fernando@jornalahora.inf.br

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