Ele nasceu no primeiro dia do ano. Inocente e pouco experiente, logo começou a carregar pesos maiores do que podia suportar. Mas manteve-se em pé, corajoso. Seguiu em frente. Trouxe uma primavera linda que atrasou o inverno, que atrasou o outono que ainda deixa o verão confuso.
Como toda criança, quis correr na rua e espalhar as folhas recém caídas ao chão. Brincou de balanço nas árvores, tomou inúmeros banhos de chuva, inclusive em alguns temporais. Ele conheceu o amor e também aprendeu a deixá-lo ir. Chorou na calada da noite e sorriu logo ao amanhecer.
De uma criança alegre e cheia de sonhos, tornou-se um adulto preocupado com a natureza, com a política do mundo, com as pessoas e os animais. Lutou pelos direitos humanos e tentou evitar discussões. Quis cuidar de seus filhos um pouco rebeldes, mas nem todos quiseram seu carinho e cafuné. Ele não insistiu.
Passou por algumas perdas e outras tantas desilusões. A frieza com que foi recebido pelo mundo diversas vezes o fez perder aqueles mesmos sonhos de menino. Ele se tornou um velho um pouco ranzinza, culpando-se por todo o sofrimento que causou. Mas não foi por vontade própria, ele bem que tentou evitar.
Hoje, senta em uma cadeira de balanço com sua manta, mesmo no auge do verão. Ele tem apenas 365 dias de vida, e olha para trás tentando enxergar o que vai deixar para os próximos que virão.
Querido 2019, não se culpe pelo que deu errado este ano, você fez o seu melhor. Nos possibilitou ver tantos fins de tarde e outros tantos inícios do dia. Você fez nascer tanta gente e viu tantas crianças crescerem. Nos ensinou a amar e a valorizar a vida.
Hoje, estamos prontos para deixá-lo partir. Mas se choramos é porque vamos sentir sua falta. Você mudou nossas vidas desde que nasceu. Para te agradecer, no último minuto da sua passagem por aqui, vamos todos nos dar as mãos, cantar felizes e ver milhares de estrelas coloridas irromperem no céu. E, quem sabe, você não apareça por aqui no próximo ano para fazer um 2020 ainda mais cheio de motivos para agradecer?