“Jurei mentiras e sigo sozinho, assumo os pecados // Os ventos do norte não movem moinhos…”, cantava o Secos & Molhados no início da década de 1970. Ícone da contracultura brasileira, o grupo produziu algumas poucas dezenas de músicas, muitas delas retratando conflitos pessoais e sociais, marcas daqueles tempos. Chegando a 2020, entramos no último ano da segunda década do Séc. XXI, vivendo um período de polarizações e fortes mudanças no modelo mental do mundo.
Enquanto Brasil, nossa expectativa é grande em termos de economia, enxugamento da máquina pública, reforma tributária e incentivo aos empreendedores, afinal estamos entre os piores países do mundo no quesito “lugares mais fáceis para se fazer negócios”, segundo o relatório Doing Business do Banco Mundial. Entre 190 nações avaliadas, somos a 124ª, mais para o fim da lista, próximos da última colocada Somália e bem atrás de Rússia, China, Índia e África do Sul. Penso que, além desse desafio, o momento é também para olharmos o mundo à nossa volta, nossas relações pessoais e comerciais, se desejarmos seguir avançando enquanto microrregião, município, empresa e pessoa.
Quando Michael Tracy e Fred Wierseman, ainda no século passado, apontaram a Intimidade com o Cliente como elemento fundamental para as empresas criarem valor para seus consumidores, possivelmente, tivessem apenas uma pequena perspectiva das mudanças que veríamos nos anos seguintes. Hoje está claro que, para marcas e organizações se consagrarem, não basta apenas preencherem as necessidades funcionais e emocionais do público, é necessário saber lidar com suas ansiedades e desejos latentes. Figuras intimidadoras se constroem apenas no inconsciente coletivo de uma parcela restrita da sociedade. As marcas precisam ser autênticas e honestas e, também, acessíveis, amáveis e até vulneráveis, admitir falhas e não buscar serem perfeitas. Marcas com personalidade, humanas, tendem a encontrar maior aceitação e fidelidade entre as gerações mais novas, que são o futuro do mercado consumidor.
Semanas atrás ocorreu em São Paulo o jantar Mind the Gap, organizado por Época Negócios, PEGN e Valor Econômico para discutir os entraves à inovação e ao empreendedorismo no Brasil. O encontro contou com rodadas de discussões e gerou um levantamento com 20 Ensinamentos para 2020. Entre estes, cito alguns que podem nos servir de sinalizadores e reforçar ainda mais os movimentos de transformação em andamento no Vale do Taquari: (1) Transparência e verdade são essenciais aos negócios; (2) Mantenha a empresa centrada em um propósito autêntico; (3) É importante manter o espírito do empreendedorismo no DNA da empresa; (4) Junte as pessoas certas, no trabalho correto; (5) É urgente incluir o tema Empreendedorismo no currículo das escolas; (6) As empresas podem, e devem, desde agora definir como enfrentarão as transformações no mercado de trabalho.
Simples e retos, porém não simplórios, pois exigem de cada um daqueles que se consideram agentes da mudança uma boa dose de dedicação e a percepção de que sozinhos somos apenas um. Para mover moinhos precisamos dos ventos que vêm de todos os cantos, precisamos estar abertos ao novo. Se rompi tratados, traí os ritos, não importa. “Lancei no espaço // Um grito, um desabafo”. Que venha 2020!
Para mover moinhos
Vale do Taquari