Na primeira noite de advento Arroio do Meio, onde resido, se iluminou prenunciando o Natal. Mesmo parecendo igual a todos os anos, neste havia algo novo. Além da iluminação, uma leve música enchia os ares. E dali em diante, todas as manhãs, indo para a empresa, ao descer do carro, ali está ela, a musiquinha natalina, suave, a nos tocar, saindo de pequenas caixinhas de som discretamente colocadas. Aqui, assim como em outras cidades da Região, é um lugar bom de se viver. Dentre outras coisas gostosas, você pode sentar-se num banco da praça, conversar, ver crianças brincando ou, simplesmente, pensar sobre a vida. Pois num destes devaneios, aquelas músicas de Natal me fizeram voltar a abril de 1980, quando integrei pequena equipe de doze funcionários do Banco do Brasil que abriram a agência de Igrejinha (RS), no Vale do Paranhana.
Vindos de várias regiões, eles formaram uma bela equipe. Todavia, iniciada a época de advento, uma inquietude emocional tomou conta de todos. Afinal, na noite do Natal voltaríamos às bases em diferentes regiões, com nossas famílias biológicas. Contudo, e nossa “nova família bancaria”? Como solução, no sábado que antecedeu o Natal fizemos uma festa conjunta. Nos abraçamos, choramos, nos emocionamos. Tudo tão singelo que parecia insignificante e fugaz. Mas que não o foi. A ponto de nos ter impactado para o resto de nossas vidas.
Há poucos dias Arroio do Meio – local do empreendimento, Encantado – sede da empresa, o Vale do Taquari e o Rio Grande do Sul ganharam um baita presente de Natal. A Cooperativa Dália Alimentos Ltda. inaugurou abatedouro de aves e fábrica de rações. Investimento direto de R$ 96 milhões, 400 empregos diretos e centenas de empregos indiretos. Diferentemente de uma indústria normal, a agroindústria – como é o caso – envolve toda uma cadeia produtiva.
Para o núcleo industrial funcionar, teve que ser criada uma cadeia produtiva avícola completa, cujo elo mais importante é o produtor de frangos. Envolve um processo que vem desde a produção de milhares de pintos/dia (a Dália construiu incubatório em Mato Leitão), até a criação de milhares de frangos para o abate diário, feita em oito condomínios implantados em diferentes municípios, formados por dezenas de pequenos produtores rurais. E aí temos mais R$ 100 milhões em investimentos. No todo das suas atividades, a Cooperativa detém 3.100 famílias associadas que podem ficar no meio rural, vivendo bem, mantendo as comunidades vivas. Bem perto, em Teutônia, a Cooperativa Languiru, com complexos idênticos e outro tanto de famílias associadas, também gera uma circulação de riquezas incomensuráveis.
Os dirigentes e quadro associativo da Dália, em meia dúzia de anos, fizeram brotar, nas várzeas do Distrito de Palmas, em Arroio do Meio, empreendimento que impacta dezenas de municípios, milhares de pessoas e o PIB gaúcho. Poderiam tê-lo implantado em outro Estado, com vantagens logísticas e tributárias que lhes proporcionariam economia de milhões de reais por ano. Mas não. O fizeram aqui, dando um presente de Natal para a Região, o Estado, a todos nós. Para milhões de gaúchos estes fatos são desconhecidos.
Contudo, a época natalina tem o condão de tocar a todos eles com os efeitos positivos deste presente, e de outros, mesmo que imperceptíveis, para o resto das suas vidas. Foi assim com aquelas doze famílias do Banco do Brasil em Igrejinha, no Natal de 1980. O é agora, com este empreendimento da Dália. Têm proporções totalmente diferentes, mas são semelhantes na sua significância na vida de pessoas. Basta termos a sensibilidade de abrirmos nosso ser para sentirmos e recebermos o afago do bem. O Natal é propício para isto.
Opinião
Ardêmio Heineck
Empresário e consultor
Assuntos e temas do cotidiano