Mesmo do outro lado do oceano, a milhares de quilômetros do Brasil, as tradições natalinas continuam sendo praticadas pelos brasileiros. A lajeadense Bianca Chiarelli, 21, passou os últimos três anos comemorando a data no Japão, na cidade de Osaka. Longe da família, procurou não deixar de passar o Natal com o marido e os amigos brasileiros que encontrou por lá, com direito a pinheiro e Ceia natalina.
Ela se mudou para o país japonês em agosto de 2016, logo após o casamento com Tiago Selbach, jogador de futsal. O destino escolhido foi pela oportunidade do marido jogar no país. Entre as principais diferenças apontadas por Bianca na época de Natal, está a parte religiosa, já que a maioria dos japoneses não comemoram o nascimento de Jesus Cristo.
Com as ruas iluminadas e enfeitadas, essa data é muito mais comercial para eles. Assim, as comemorações ficam por conta dos estrangeiros, em uma mistura cultural. “Os alemães, por exemplo, têm um mercado alemão de Natal, com comidas próprias deles”, conta Bianca. Nesse ambiente também é montado um presépio.
Acostumada a celebrar de forma intensa a data aqui no Brasil, Bianca não quis perder o costume, mesmo do outro lado do planeta. Os mercados internacionais foram seu principal destino para comprar os pisca-piscas, a árvore de Natal e os ingredientes da ceia brasileira. A noite marcada pela união da família e dos amigos foi comemorada no apartamento dela e do marido, com alguns brasileiros que também moravam por lá na época.
Todo o preparo foi feito por eles, desde o peru às saladas. “A diferença de fazer a ceia lá, é que temos que fazer tudo, porque eles não têm os pratos prontos. Aqui no Brasil, se tu não souber preparar o peru, tu pode encomendar”, destaca Bianca. A celebração também foi feita com amigo secreto e troca de presentes.
Mas, se por um lado os japoneses não cultivam muitas tradições natalinas, por outro, têm fortes costumes de Ano-Novo. Entre eles, ver o primeiro pôr do sol. No início de janeiro, também costumam visitar os templos e trocam um cartão da sorte que esteve com eles durante o ano que passou. Outro costume é elaboração de um prato específico para a data, e cada família faz um cartão-postal. Para finalizar, os japoneses limpam as casas e penduram mandalas para espantar os maus espíritos e atrair os bons.
Depois de três anos comemorando o Natal cheios de casacos e cachecóis, no auge do inverno japonês, este ano Bianca e o marido voltaram ao Brasil e vão passar a data de vestido, bermuda e chinelos, rodeados da família. “Está sendo muito gostoso, eu estou participando de todos os amigos secretos possíveis”, brinca a brasileira.
Países irmãos, diferentes tradições
Um Natal diferente a cada ano. Esta é, para Vanessa Carreira, 25, a melhor parte de celebrar a data no Brasil. Portuguesa, ela nasceu na cidade de Torres Novas e pisou em Lajeado pela primeira vez em 2015, quando se apaixonou, pela cidade e pelo marido.
Na ocasião, Vanessa escolheu o Brasil para cursar um intercâmbio universitário. Se adaptou tão bem que decidiu estender o intercâmbio de seis meses por mais meio ano, quando passou o primeiro Natal aqui. No ano seguinte, voltou a Portugal, mas já com a intenção de morar no Brasil. “Me apaixonei pelo país e gostei muito de Lajeado. Decidi voltar porque meu coração, de algum modo, ficou aqui”.
Vanessa se prepara para o terceiro Natal em Lajeado. O primeiro foi comemorado com a família do marido, o segundo com amigos e para o próximo, o casal planeja uma celebração a dois. “A coisa mais linda é poder inovar, porque o verão permite isso. Podemos viajar e passar o Ano-Novo na praia, por exemplo”. Em Portugal, onde é inverno, o frio e a chuva restringem as opções.
Outra grande diferença é a ceia. No primeiro Natal em Lajeado, Vanessa lembra que o prato principal foi churrasco. “Foi então que comecei a ambientar-me”, brinca. Em Portugal, a família costuma preparar cabrito no forno, peru e pratos típicos como o bacalhau de todos. Lá também não existe panetone. Os doces típicos são o bolo-rei e o bolo-rainha.
Das tradições que trouxe de Portugal, estão abrir os presentes depois da meia-noite e decorar a casa com pisca-piscas. Mas aos poucos está aprendendo a comemorar o Natal aqui de sua própria forma. “O país vai me ensinando coisas novas ao ponto de eu sentir que não tenho que trazer toda a tradição portuguesa de forma obrigatória para me sentir em casa”. Para Vanessa, o Natal é uma época de união, e o espírito natalino vai muito além de enfeitar a casa. “É estar com os teus de alguma forma, estar presente mesmo que distante”.
Para vencer a distância
O Natal é a época em que Vanessa mais quer anular a distância e poder dar aquele abraço em sua família. Para vencer a barreira da distância, a mãe e o padrasto enviam todos os anos cartões-postais da família e dos amigos, enfeites para a casa no Brasil e até um livro de receitas para Vanessa preparar pratos típicos e se sentir um pouco mais perto do seu primeiro lar.
Na noite de Natal, as duas famílias fazem videochamada para celebrar juntas e matar a saudade. Vanessa conta que o primeiro Natal longe de Portugal foi muito difícil para ela e para a mãe, uma vez que a data sempre foi muito importante para a família. “É um verdadeiro evento, minha mãe enfeita até o banheiro”. No futuro, planeja trazer a mãe e o padrasto para festejar a data no Brasil e conhecer o país que adotou como seu.
Apesar da saudade, Vanessa se sente acolhida. O Brasil se tornou sua casa, e os amigos e a família do esposo, sua rede de apoio. “Valorizo as experiências e as pessoas que tenho aqui, a minha nova vida, abraço as mudanças dessa forma”.