O Brasil tem só cerca de 60 profissionais que fazem manutenção de pianos clássicos. Um deles mora em Estrela e tem 19 anos de idade. Arthur Sulzbach começou a tocar piano aos 11 anos, e a vontade de ter um instrumento em casa o levou a comprar um em péssimas condições. Este problema, em vez de desanimá-lo, o fez descobrir a profissão que exerce hoje. Sulzbach tem um ateliê, no qual vende e reforma pianos, além de fazer manutenção de instrumentos por todo o estado.
• Qual a sua história com os pianos até aqui?
Comecei a tocar com 11 anos e queria um piano, mas, obviamente, meus pais não iam me dar um piano assim. Então comecei a juntar dinheiro e consegui comprar, quando tinha 12 anos. Comprei um piano em Sapucaia do Sul. Fomos buscar entre sete pessoas. Trouxemos para casa e, na verdade, não era um piano, era um ninho de cupins. Para restaurar custaria cerca de R$ 10 mil. Estava fora de cogitação, então comecei a fazer por conta. Em vez de brincar na rua, comecei a desmontar o piano. Comecei a mexer na mecânica, na afinação e passei a trabalhar nisso. No início do ano passado fui estudar Agronomia em Minas Gerais. Lá eu precisava de dinheiro e comecei a trabalhar com manutenção dos pianos da faculdade. Vi que existia um mercado muito bom. Larguei a faculdade, voltei para Estrela e abri meu negócio.
• Você tem ideia do tamanho deste mercado?
No Vale do Taquari se pode estimar em torno de 2 mil ou 2,5 mil pianos. Mas a gente atende todo o estado.
• São instrumentos antigos ou muitas pessoas ainda compram pianos?
Grande parte são pianos passados de geração para geração. Geralmente, quem adquiriu foi duas gerações atrás. A maior parte destes pianos está em condição bem precária, então temos muito trabalho de restauração. Mas tem muita venda de piano, a gente não dá conta de manter estoque. Só para Lajeado, de agosto para cá, vendemos uns 10 ou 12 pianos.
• Como é o processo de afinação de um piano?
O piano tem 230 cordas e a gente tem que afinar uma por uma. É um processo trabalhoso. Leva em torno de 2h30 ou 3h. O ideal é que esse processo seja feito duas vezes por ano.
• É um diferencial saber tocar, além de fazer a manutenção?
Eu acho que o bom técnico é aquele que, além de dominar a parte mecânica do instrumento, também toca. É um problema hoje no Brasil. No país somos entre 50 ou 60 técnicos de piano, somente, e a maior parte deles, 80%, não tocam.