Uma luta cultural

Opinião

Bibiana Faleiro

Bibiana Faleiro

Jornalista

Colunista do Caderno Você

Uma luta cultural

Não quero ser injusta ao falar de raça. Mas tento, aqui, ser empática para dialogar com o Dia da Consciência Negra (20 de novembro), criado em 2003 com a reflexão sobre a inserção do negro na sociedade brasileira. Essa data também é marcada pela morte do Zumbi dos Palmares em 1695, o último dos líderes do Quilombo dos Palmares, que existiu em Alagoas durante o período colonial.

Durante décadas ele lutou para que o quilombo não fosse destruído pelos colonizadores que consideravam um perigo aquela reunião de negros libertos na região. Que ironia. Os perigosos nunca foram eles.

Quase três séculos e meio depois, essa discriminação injusta ainda acontece aqui. Muitos de nós não entendem o que as ofensas de raça significam. Achamos uma “revolução” exagerada quando torcedores ofendem jogadores negros e eles se manifestam nas redes sociais. De qualquer forma, qualquer dessas ofensas às vezes é vista como exagero.

Também quero uma sociedade igualitária de direitos e respeito. Mas o que não lembramos é que a questão de raça é uma luta cultural que vem de séculos. O que acontece hoje, não é isento dos negros escravizados, mortos e coagidos. Essa luta carrega a história. Que nós, por vezes, não entendemos.

Os negros foram perdendo os seus costumes para se adequarem à colonização. Mas eles que são os autênticos. Somos todos parte de uma sociedade miscigenada, onde descendentes de italianos, alemães e africanos se juntam para tomar um café e fazer funcionar uma cidade.

Gosto de pensar no que Nelson Mandela diz: “Nossa pretensão é de uma sociedade não racial. Não é uma questão de raça; é uma questão de ideias”. Não é mesmo isso?

Não é a nossa cor que define quem somos. Nossas crenças, costumes e culturas devem ser respeitados. São essas misturas que descrevem o Rio Grande do Sul e nos caracterizam como um povo acolhedor.

Ainda que lutamos por igualdade, precisamos deixar que os negros recuperem e transformem essa discriminação em uma história boa. Atrapalhar isso não faz de nós uma sociedade justa. Ninguém quer ser definido pelo seu exterior. Martin Luther King Jr. já disse: “Eu tenho um sonho. O sonho de ver meus filhos julgados por sua personalidade, não pela cor de sua pele”.

Bob Marley também entendeu: “Enquanto imperar a filosofia de que há uma raça inferior e outra superior, o mundo estará permanentemente em guerra!”. A mudança tem que partir de nós.

Acompanhe
nossas
redes sociais