Ao passo que nos aproximamos de mais um verão, ergue-se um debate que não pode mais ser negligenciado
Terça-feira dessa semana a sensação de abafamento, de calor escaldante no centro de Lajeado me fez pensar. Pensar no que será dessa área central – leia-se Júlio de Castilhos – daqui a 10 ou 20 anos. Quando o Adair Weiss, titular desta página, me pediu para assumir o espaço neste fim de semana, decidi: vou escrever sobre isso. Precisamos falar mais sobre isso.
A época natalina – sim, já estamos nela de novo – atrai multidões para o comércio, animados pelas festividades e pelo clima que invade corações e mentes durante este período. Ocorre que, em Lajeado, na Júlio de Castilhos e demais ruas arredores, caminhar em busca de presentes se transforma em martírio. Sim, martírio.
O alívio só vem quando se adentra as lojas, climatizadas com aparelhos de ar-condicionado operando a mil. Afora a Praça da Matriz, não há sombra de árvore. O ar é seco. Chega a ser sufocante. A sensação, quando as temperaturas atingem aqueles picos de todos os anos, é de que estamos num imenso forno a céu aberto. É ou não é?
É impossível sentir prazer caminhando pela Júlio quando o sol bate no concreto e os termômetros passam de 30ºC. Quando passam de 40ºC então, nem se fala. O conceito de Smart City projeta as cidades para as pessoas circularem, sentirem prazer em um ambiente agradável. Lajeado faz movimentos promissores para se tornar uma Cidade Inteligente.
Mas é necessário olhar com mais propriedade para a questão do calor e do martírio que virou caminhar pela área central durante o verão. De carro, beleza. É só fechar os vidros, turbinar o ar e seguir. Ocorre que uma Cidade Inteligente não prioriza o uso de carro e sim, estimula o tráfego dos pedestres e cria uma ocupação saudável dos espaços.
Sinto um ciúme quando vou para a Rua Marechal Floriano, em Santa Cruz do Sul, aqui pertinho. Na época em que trabalhava como secretário de motorista na Expresso Leomar, há 18 anos, eu adorava quando o Fritz – meu ex-chefe, não o marido da Frida (sim, naquela época ainda se tinha chefe), me escalava para acompanhar o caminhão das entregas naquela região. Aquele túnel verde, com sombra abundante, deixava até as caixas mais leves.
Uma vez não era assim. Em 1942, Santa Cruz decidiu construir o tal túnel verde. Setenta e sete anos depois, o espaço tornou-se num dos orgulhos dos santa-cruzenses. E com todo mérito.
Lajeado precisa acordar para isso. De verdade. Alguém terá de assumir essa postura e decidir que Lajeado do futuro será diferente. Eu sei que isso não dá muito voto, mas bem que o tema poderia estar na lista de debates para as eleições do próximo ano. Afinal, o que nos impede de ter árvores e sombra na Júlio de Castilhos e ruas vizinhas?
Opinião
Fernando Weiss
Diretor editorial e de produtos
Coluna aborda política e cotidiano sob um olhar crítico e abrangente