Enquanto o preso era o “ladrão-de-galinha”, a condenação em segunda instância servia
Agora que os ladrões de colarinho branco foram enjaulados, o Supremo Tribunal Federal muda de opinião. Chega a conclusão que devem ser esgotadas todas as instâncias recursais para prender quem está sob investigação.
De repente, até os juízes e promotores da Lava-jato se tornaram “mais criminosos” do que os políticos e empresários que usurparam “míseros bilhões” de reais do povo brasileiro. Como não basta a prova das fortunas recuperadas, tenta-se criar a narrativa de exageros nas investigações. E tem um monte de “idealistas” dando razão.
Ora, é muita cara de pau da maior corte brasileira. A população assiste impotente ao patético e lamentável resultado protagonizado por um grupo de magistrados que muda de opinião conforme o vento. Ou melhor, conforme interesses dos ricos e poderosos. Fosse apenas o pobre atrás das grades, certamente, a decisão seria outra. Aliás, a mudança de opinião do STF é a prova cabal.
Fica difícil para o cidadão leigo compreender tamanha confusão da suprema corte. A sensação de impunidade retoma sua força e junto vem uma cortina de fumaça perigosa que avança para desacreditar a Lava-jato.
São quase cinco mil condenados que agora podem se livrar das grades. Basta um pouco do dinheiro desviado para pagar um eficiente advogado, e pronto.
Enquanto isso, o sistema robusto e corrosivo insiste em desfazer o trabalho do ex-juiz Sérgio Moro, dos demais magistrados e promotores, tudo para criar a ideia de que houve “desvio de conduta” nas investigações.
Fato é que os sem-vergonhas de colarinho branco sempre puderam contar com um sistema judicial lento e burocrático, permitindo driblá-lo nas entranhas ao belo prazer. A Lava-jato quebrou este vício, ainda que com alguns deslizes imorais, que no meu ponto de vista jamais deveriam receber tanta importância mediante o danoso sistema quebrado.
Os contrários que me perdoem o desabafo, mas neste país tupiniquim, quando alguém faz o que deve ser feito, o sistema entranhado se encarrega de desconstruí-lo por meio dos subterfúgios da interpretação jurídica, invocando pretextos rebuscados, que no final das contas não passam de manobras em favor da impunidade.
Comprovadamente, a Lava-jato recuperou fortunas, graças ao esforço e risco empenhados pelos seus corajosos juízes e promotores. Muitos dos ladrões estão na cadeia, mas logo seguirão em liberdade.
No apagar das luzes, quem vai ter de se explicar serão os juízes e promotores que tentaram quebrar o maior sistema de corrupção na história deste país. Quero crer que este esforço herculano não tenha sido em vão.
Do contrário, serei obrigado a estender uma bandeira bem autêntica: “Viva a república imperial dos corruptos, com a masturbação intelectual e soberana do STF!”
Opinião
Adair Weiss
Diretor Executivo do Grupo A Hora
Coluna com visão empreendedora, de posicionamento e questionadora sobre as esferas públicas e privadas.