Uma chance em meio ao cárcere

Editorial

Uma chance em meio ao cárcere

Em uma sociedade cada vez mais embrutecida pela constante perda de valores, pela descrença no poder público e pela insegurança, há menos espaço para a fraternidade, a solidariedade e a empatia. O pensamento “nós e eles” cria muros e divide…

Em uma sociedade cada vez mais embrutecida pela constante perda de valores, pela descrença no poder público e pela insegurança, há menos espaço para a fraternidade, a solidariedade e a empatia. O pensamento “nós e eles” cria muros e divide ainda mais a sociedade.
Quando o “eles” são presidiários, esse abismo é maior. Não raro, grupos tratam os detentos como escória. Nas redes sociais, se exacerbam comentários de que o Estado não deveria gastar e sim adotar um regime com pena de morte.
Esse radicalismo extremo pouco constrói. Seja qual o assunto, o antagonismo das posições afasta o diálogo e o entendimento. Pelo empenho de voluntários e da comunidade regional, algumas ações dentro das casas prisionais mostram um esforço incomum em ressocializar os presos. Entre as iniciativas está a campanha para aumentar o acervo de livros da prisão de Arroio do Meio.
Como objetivo, está a tentativa de formar novos leitores e fortalecer a educação em um ambiente até então esquecido por muitos. Essa campanha ocorre junto com as aulas do Neeja Liberdade, que há cinco anos oferece formação na educação básica para os detentos da região.
Essa ação se soma a outras que estão em andamento. Em Lajeado, por exemplo, detentos passam por curso de formação técnica do Senai. Mais uma vez, a mobilização comunitária se mostra uma força da região. Pela falta de atendimento e políticas públicas do Estado, responsável pela administração dos presídios, a sociedade civil organizada, os poderes públicos municipais, o Ministério Público e o Judiciário se movimentam para levar uma segunda chance aos detentos.
O modelo adotado no RS para o sistema penitenciário faliu. O poder paralelo assumiu o controle das instituições penais. O sucateamento do sistema carcerário tem, no mínimo, duas décadas. Neste período, os investimentos minguaram. As cadeias viraram masmorras, com celas superlotadas e com a disseminação de doenças devido à condição insalubre.
Esperar que por um passe de mágica, o criminoso chegue em um local desses e se arrependa é improvável, para não dizer impossível. Como recuperar alguém se o mínimo da sua dignidade foi tirada?
Entre reclamar da crise, esperando algo acontecer, e agir, sempre é melhor a segunda opção. O problema está posto, é de conhecimento público. Já a solução precisa, acima de tudo, de atitude e esforço conjunto.

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