Especialista defende espaços de diálogo para enfrentar a violência

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Especialista defende espaços de diálogo para enfrentar a violência

Percursora da justiça restaurativa, Kay Pranis palestrou em Lajeado sobre formas de diminuir a violência

Especialista defende espaços de diálogo para enfrentar a violência
Lajeado

Cerca de 300 pessoas lotaram o auditório da Unimed, em Lajeado, para o workshop “Círculos em Movimento nas Escolas – Construindo Comunidades Escolares Restaurativas”. À frente da formação estava Kay Pranis, norte-americana precursora da justiça restaurativa.
A especialista apresentou o conceito de círculos da paz, técnica utilizada por elas nos EUA para solucionar situações de conflito e violência, utilizando a criatividade e sensibilidade.
Conforme Kay, o círculo se resume a um “convite” ao diálogo. Ela explica que a cultura ocidental não atende um dos anseios mais básicos do ser humano: o sentido de pertencer a uma sociedade. “Pertencimento é uma necessidade humana fundamental. Mas a cultura bloqueia esse sentido nas relações humanas.”
Fazer com que as pessoas estreitem relações e se sintam participativas estão entre os objetivos, afirma a palestrante. Com os diálogos, Kay percebe ser possível estabelecer os limites dos interesses coletivos e individuais. “Pelo fato de cada pessoa trazer sua verdade, cada pessoa pode trazer a necessidade individual e encaixá-la dentro dos interesses do grupo”, comenta.
A ação foi voltada a professores, monitores e profissionais de instituição de ensino e promovida pela Escola Superior da Ajuris. Teve como objetivo capacitar pessoas para transformar ambientes e construir relacionamentos saudáveis. No município, a técnica é implantada em escolas e instituições com o programa Pacto Lajeado pela Paz.

Entrevista

“Qualquer castigo é visto como retaliação e isso faz com que a violência aumente”
Como os processos circulares podem resolver problemas práticos de indisciplina escolar ou até casos mais graves?
Essas duas coisas estão conectadas. As pequenas coisas que acontecem no dia a dia se somam e fazem com que isso vire violência. Com os processos circulares, existem dois níveis em que você está lidando com a violência. No nível menor, você trata de coisas pequenas que irão evitar que se tornem ações violentas maiores. Também podemos usar o círculo em casos mais graves, criando espaços de diálogos para tratar da violência que aconteceu e deixar a comunidade mais conscientes das causas subjacentes aos fatos.
Castigar é uma forma de diminuir a violência?
Qualquer castigo é visto como retaliação e isso faz com que a violência aumente. Através dos processos circulares, o grupo pode descobrir meios de lidar com essa violência de outra forma que não seja a punitiva.
Na palestra, você fala que a cultura bloqueia os sentidos de pertencimento nas relações humanas. Como mudar isso?
A medida que o objeto da palavra vai passando de mão e mão, a pessoa ganha a oportunidade de falar sem ser interrompido. Neste tempo você é visto por todos que estão no círculo. Nas primeiras partes do círculo temos conversas a respeito dos valores que cada um traz e oferece. Em quase todos os círculos um valor trazido é o respeito. Então, se cada pessoa sente que é respeitada e que a voz é ouvida, isso dá uma sensação de pertencimento muito grande. Depois, as pessoas são convidadas a compartilhar histórias de vida e isso cria conexão.

FÁBIO KUHN – fabiokuhn@jornalahora.inf.br

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