“Virei leitor dentro da prisão”, relata o detendo G.P., 32 anos. Desde que o Presídio Estadual de Arroio do Meio implantou o projeto de leitura, em junho deste ano, o apenado já leu 12 livros de autores como Paulo Coelho, Érico Veríssimo e Graciliano Ramos. “Antes só lia jornais mesmo. Nem me lembro da última vez que tinha pegado um livro na mão”, comenta.
Como recompensa da dedicação à leitura, ele ampliou o vocabulário e percebe os benefícios da prática aos colegas de cela. “Tinha gente que não sabia escrever uma palavra. Vão sair da cadeia alfabetizados”, comenta.
Para incentivar novos relatos como o de G.P. e agregar mais obras à biblioteca da casa principal, as estudantes de Univates Rafaela Valduga e Kátia Luisa Krabbe realizam uma campanha de arrecadação de livros.
A iniciativa faz parte da disciplina de Psicologia Jurídica, proposta pela professora Priscila Detoni. Para as estudantes, a leitura ajudará na ressocialização dos presos. “A educação é uma forma de instrumentalizar e se relacionar de um jeito diferente com o mundo, afinal Alessandro Barata aponta que os países que mais investem em educação não precisam investir em prisões”, destacam.
Interessados em doar livros tem até este sábado, 29 (veja como ajudar no quadro fechado). Até a tarde de ontem, 64 livros já haviam sido doados.
Os materiais arrecadados serão entregues no presídio na terça-feira, 29, quando as universitárias farão uma oficina sobre leitura concomitante com a integração de outros projetos já existentes no espaço, como a Educação para Jovens e Adultos (EJA), e projetos dos cursos de Direito e Biologia da Univates.
Presídio exemplo
Atualmente, o presídio de Arroio do Meio conta com 41 presos. Além das aulas e projeto de leitura, há espaço para os apenados trabalharem. “Damos as oportunidades e cabe a eles aproveitarem. Por isso somos um presídio exemplo no estado”, comemora o administrador Rogério Tatsch.
Conforme ele, o Núcleo de Educação de Jovens e Adultos (Neja Prisional) é realizado desde 2016 com matrícula de 18 apenados. Quem participa das aulas, que ocorrem quatro vezes por semana, ganha remissão de pena de um dia a cada três de estudos.
No caso do projeto de leitura, o apenado ganha quatro dias por livro lido, tendo o limite de um livro ao mês. Para confirmar a leitura, o preso passa por um teste com uma professora de português. Tatsch reforça a crença na ressocialização com os projetos educacionais. “Eles ocupam a mente. Sempre tem algo para fazer e isso vai ajudar eles lá fora”, ressalta.
Conforme Tatsch, a biblioteca prisional possui cerca de 300 livros. A maioria deles foi doada pela comunidade.
FÁBIO KUHN – fabiokuhn@jornalahora.inf.br