O desafio de viver

Opinião

O desafio de viver

Volta e meia alguém coloca um vídeo bonito nas redes sociais mostrando animais brincando, cuidando de outros ou demonstrando afeto. E vem o comentário: o homem devia aprender com os animais a ser “mais humano”.
Sempre fico pensando na simplicidade dos afetos e organização social dos animais. Bem alimentados, sentindo-se seguros, não ameaçados e recebendo alguma atenção, eles têm uma ótima convivência, com homens e outros animais. E fico pensando em como é complexa a vida do bicho homem.
Passamos de bebês indefesos, com comportamentos e instintos básicos, e nos tornamos sujeitos com pensamentos complexos, capazes de pensar a respeito de passado, presente e futuro. Em cada fase do desenvolvimento somos confrontados com desafios. E conforme os superamos, nos fortalecemos ou criamos dificuldades para as próximas fases.
O desafio do bebê é criar confiança através dos laços com a mãe (ou outro cuidador) a fim de sentir-se seguro para explorar o novo mundo que o cerca. A partir de um ano, passa a compreender que existem algumas regras, e que não pode simplesmente ter todos os seus desejos gratificados. O desafio entre o pode e o não pode, entre a autonomia e as regras sociais e culturais. Amadurecendo, adquire a noção do EU e do OUTRO, e começa a explorar o mundo intelectualmente. Adquire, ou não, confiabilidade, responsabilidade e autodisciplina.
Aos seis anos, o desafio é integrar-se em novos ambientes e, na escola, demonstrar confiança em suas habilidades em várias competências.
Na adolescência, o grande desafio é desenvolver um senso próprio de identidade, a socialização e a sexualidade. O adulto jovem deve desenvolver vínculos maduros (amizade, sexual, amoroso). Na segunda fase do adulto (40-60), o maior desafio é orientar as gerações que virão. É uma fase de bastante trabalho, de investir na sociedade em que vive. Pode ser bem sucedido ou ficar estagnado, preocupando-se mais consigo mesmo, apático e sem criatividade.
E finalmente o nosso idoso, que deve refletir a respeito de sua vida. Se foi produtiva (como ele define produtividade), terá um sentimento de satisfação e integridade. Se concluir que não teve uma boa vida, poderá ter sentimentos de menos valia e desgosto.
Nesse brevíssimo relato de nossa linha da vida e seus desafios, penso que, se os animais recebessem a inteligência do homem e toda complexidade dos desafios do seu desenvolvimento, da sua vida afetiva e social, ah sim, eles teriam muito a aprender conosco!
Por Ana Lucia F. Martini

Acompanhe
nossas
redes sociais