Ao passar pela rodovia BR-386, em Linha Perau, interior de Marques de Souza, chama a atenção o cultivo de morangueiros de ambiente protegido da família Arend. A atividade foi uma das formas encontradas por Sandro, 31, permanecer na lavoura ao lado da mãe Rosovita, 51.
Em 2015, com um investimento de R$ 12 mil, aplicados na construção da estrutura e a compra de 2,5 mil mudas, a cultura passou a incrementar os lucros na propriedade, antes dependente da produção leiteira. Hoje, são três áreas cobertas e 7 mil pés em frutificação.
A técnica de alojar as mudas sobre bancadas, em sacos de substrato, onde o consumo de água e adubação é controlado, iniciada na Serra Gaúcha faz 10 anos, denominada de fertirrigação, foi um dos motivos para a família ampliar a área cultivada. “Torna o serviço menos penoso e aumenta a produtividade”, destaca.
A oferta de frutas é constante, sendo maior entre os meses de setembro e janeiro. Além da venda direta na propriedade, às margens da rodovia, os morangos são destinados para consumo in natura em mercados e fruteiras da região.
Para diversificar
Fabiano Wunder, 28, de Canudos do Vale plantou 1,2 mil pés em três canteiros. Para reduzir custos, optou pelo sistema convencional. A estimativa é de colher até 400 gramas por morangueiro. O quilo é comercializado por R$ 12. “Trabalho com hortaliças faz dois anos. Começamos a produzir a fruta por insistência dos clientes. Quero investir no ambiente protegido para ampliar a oferta, reduzir as perdas e facilitar o manejo”, comenta.
A mudança pelo sistema semi-hidropônico é motivada pelo ataque de pragas, pássaros e até doenças. “O morango é um complemento das atividades desenvolvidas. Os frutos estão graúdos e muito suculentos, com demanda garantida”, aponta.
A família ainda mantém dois chiqueiros com mais de 500 suínos. Já as hortaliças são entregues para a cooperativa Languiru, de Teutônia. São cultivados couve-flor, brócolis, repolho, alface, beterraba, tomate, pepino e pimentão.
Técnica amplia oferta
Conforme o engenheiro agrônomo Enio Angelo Todeschini, da Emater Regional de Caxias do Sul, após o início do cultivo de morangueiros em substrato, num ambiente protegido, a produção duplicou.
Dez anos após a técnica ser desmistificada, a cultura está presente em 180 municípios do estado e envolve 2,2 mil famílias, em uma área de 520 hectares. “A nova forma de cultivo popularizou a atividade. Do chão passou para bancadas. Com o substrato a vida útil da planta aumentou para três anos e a produtividade dobrou, chegando a um quilo por pé”, aponta.
Outra vantagem é a sanidade e a forma de trabalhar. “Ninguém mais sofre com dores nos tornozelos, joelhos e coluna”. As variedades de dias curtos foram substituídas por de dias neutros. Com isso, a produção se estende por até dez meses ao ano.
No entanto, Todeschini demonstra preocupação com a oferta cada vez maior. “Já exportamos 50% da produção para outros estados. Se continuar este crescimento, poderemos ter uma saturação no mercado e ainda a queda no preço”, alerta.
Hoje, o custo para construir uma estrutura de ambiente protegido de 250 metros quadrados, com capacidade de alojar 2,5 mil mudas, chega a R$ 12 mil.