Você está a pé. Só quer voltar para casa depois de um dia cheio de trabalho. Está cansada, já está escurecendo e prefere chamar um transporte pelo aplicativo. Você, inconscientemente, torce para ser uma mulher na direção. É um homem. Tudo bem.
O carro com a placa indicada em seu celular para no local solicitado. Você entra pela porta de trás. Lamenta ter saído de saia naquela manhã. Lamenta ter de lamentar por isso. Insegura, cobre as pernas como pode e fecha o casaco. Não tira os olhos do celular. Teme estar sendo observada pelo retrovisor. Prefere não tirar a dúvida.
O trajeto até sua casa demora menos de 10 minutos. Mas, para você, parece uma eternidade. Desconfia quando entram em alguma rua diferente da que está acostumada. O motorista tenta puxar assunto. Você responde com um discreto sim ou não. Enquanto isso, manda mensagem atrás de mensagem para sua mãe, sua melhor amiga, seu namorado. Até pensa em ligar para alguém. Apenas para se sentir segura.
Já deixa o valor separado para não perder tempo quando chegar. O motorista para em frente à sua casa. Você paga e sai ligeiro. Ele deseja boa noite, foi gentil. Você não olha mais para trás até fechar a porta. Ufa. Consegue respirar de novo.
Quantas vezes entramos em um carro com um homem desconhecido e, mesmo inseguras, chegamos em casa bem. Muitas de nós não têm tanta sorte. O assédio acontece todos os dias e os homens de bom caráter também são julgados por isso.
Depois de aplicativos de transportes como FemiTaxi, Lady Driver, Gurias na Direção, Driver Girls circularem por São Paulo, Rio de Janeiro, Porto Alegre, na metade dessa semana, Lajeado conheceu o BlushApp, com apenas mulheres no volante. Ele está disponível para dowload pelo Play Store ou Apple Store e foi criado por uma lajeadense. Mais uma vez, são mulheres cuidando de mulheres. No mundo ideal, não precisaria ser assim. Enquanto não existir respeito, somos “elas por elas”.
Opinião
Bibiana Faleiro
Jornalista
Colunista do Caderno Você