“O professor precisou entrar no presídio para ser valorizado”

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“O professor precisou entrar no presídio para ser valorizado”

Natural de Estrela, o professor Adalberto Francisco Koch, 57, escolheu sair das salas de aula para lecionar em locais inusitados, nos presídios. Após dez anos de atividades nas penitenciárias da região, coordena o Neeja Liberdade, núcleo de educação voltado para…

“O professor precisou entrar no presídio para ser valorizado”

Natural de Estrela, o professor Adalberto Francisco Koch, 57, escolheu sair das salas de aula para lecionar em locais inusitados, nos presídios. Após dez anos de atividades nas penitenciárias da região, coordena o Neeja Liberdade, núcleo de educação voltado para detentos. Neste Dia do Professor, destaca o papel dos mestres para uma sociedade mais justa, fraterna e igualitária.

• Por que escolheu ser professor?

Na época de aluno, no Ensino Médio, não me imaginava à frente de uma turma. Por conta das opções da vida, fiz concurso para o Estado e fui aprovado. Sou formado em Filosofia, com habilitação para História, Filosofia e Psicologia. Eu trabalhava no setor de Recursos Humanos em uma fábrica de calçados e lecionava a noite no supletivo em Teutônia. No início dos anos 90, fiz mais um concurso e sai de vez do setor privado.

• Como foi que começou a atuar no presídio?

Minha entrada faz uns dez anos. Foi pela Pastoral Carcerária, pelo saudoso Miguel Feldens. A escola dentro do presídio tem o dedo dele. Minha ida para trabalhar com detentos também foi devido a ele.
Naqueles primeiros anos, era bem precário. Não tínhamos estrutura. Era ir até a prisão e atender os alunos apenados. Isso me mostrou que se houver vontade e interesse do grupo, podemos encarar as dificuldades e torná-las pequenas.

• Na relação com os professores, quais as diferenças entre alunos do regular e os presos?

Percebemos uma diferença no interesse, na participação e no respeito. Ao longo desses anos atuando nas prisões, não tivemos um caso de indisciplina. Já na escola regular, é comum e corriqueiro.
Interessante perceber que aquele rótulo do criminoso, mal-encarado, na verdade quando estamos na sala de aula, vemos que são pessoas e que querem oportunidade. Qualquer pessoa de fora do sistema que entra no presídio para ajudar, é muito bem recebido. O professor precisou entrar no presídio para ser valorizado.

• Neste Dia dos Professores, o que há para comemorar?

O professor ainda acredita. Na prisão, vemos que a falta de base, de estrutura e conhecimento aproxima as pessoas do crime. Aqui, voltamos para a importância da educação. Disso tudo, são os professores os grandes agentes de transformação. É triste ver essa desvalorização. Quando a sociedade, o país, acordarem, talvez teremos uma retomada. Não falo de desenvolvimento econômico, mas cultural e social.

FILIPE FALEIRO – filipe@jornalahora.inf.br

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