“Ser professor é celebrar a amizade, o amor ao conhecimento, ser criativo e ter esperança em uma sociedade melhor.” As palavras de Gisele Bruinsma, docente da maior escola estadual da região, a Presidente Castelo Branco, traduzem um pouco do sentimento dos mestres neste 15 de outubro.
De fato, perguntar a um professor o que comemorar nesta data é ouvir um profundo suspiro antes da resposta. “Difícil. Nos sentimos cada vez mais desvalorizados. Muitas vezes somos desrespeitados pelos próprios alunos”, desabafa o diretor do colégio, Marcos Dal Cin.
Na dicotomia entre acreditar na profissão como o meio de transformação social e conviver com os percalços do constante desmonte na educação pública, os docentes precisam deixar os problemas de lado e pensar em aulas cada vez melhores e mais atraentes.
“Procuramos fazer atividades diversas. Levar alunos para feiras de cursos, de ciências, para participar de audiências públicas, tudo com o intuito de integrá-los a vida na sociedade”, diz Dal Cin.
No entanto, o resultado está longe do esperado. Na manhã, tarde e noite de ontem, a direção e os professores precisaram ir em todas as salas cobrar os alunos pelas faltas nessas atividades. “Ao mesmo tempo que os estudantes cobram algo diferente, quando acontece, eles se ausentam”, afirma a vice-diretora do noturno, Ivete Urnau.
Essa realidade é vista em diversas instituições. Algumas com mais episódios dramáticos, outras com menos. Mas de fato, na rede pública estadual, falta de estrutura, os baixos salários (e atrasados) e os frequentes casos de professores adoecidos são o cenário da educação. Como resultado, atritos entre educadores e estudantes transformam os colégios em ambientes que, por vezes, dificultam o aprendizado.
O panorama educacional no país suscita preocupação. A cada nova pesquisa, avaliação ou estudo, fica evidente a necessidade de um esforço coletivo para repensar o ensino nacional. Um primeiro movimento imprescindível é a valorização do professor.
Sobre essa tônica, um novo choque de realidade. Estudo conduzido em 35 países para avaliar o status dos professores na sociedade mostrou que o Brasil é o que menos valoriza esse profissional. O estudo foi feito pela Varkey Foundation, uma ONG fundada pelo indiano Sunny Varkey, que tem como objetivo melhorar os padrões de educação para crianças carentes.
Os cinco piores colocados são Argentina (31º), Gana (32º), Itália (33º), Israel (34º) e Brasil (35º). No país, os professores foram comparados aos bibliotecários, em termos de status social.
Também fez parte do questionário a avaliação de respeito dos alunos aos mestres. Nesse aspecto, mais uma vez, o Brasil teve o pior resultado. Menos de 10% das pessoas acreditam que o aluno respeita o professor. Na China, esse percentual é de 80%.
Desinteresse dos jovens
A importância da função do professor é percebida em todas as atividades. Na sociedade, representa o conhecimento que é propagado às novas gerações. Muitos fazem o papel de pai, mãe, psicólogo. Assumem responsabilidades que ultrapassam as salas de aula.
Se a população é unânime em reconhecer a importância do mestre, por que há redução no interesse dos jovens em seguir a carreira de docente? Nas quatro escolas estaduais da região com o curso de magistério (Castelo Branco, Estrela da Manhã, Monsenhor Scalabrini e Pereira Coruja) não chega a 100 formados por ano.
Conforme o Ministério da Educação, apenas 2% dos diplomados no Ensino Médio escolhem ser professor. De 2007 até 2011, estatísticas da Educação Básica revelam que o percentual de educadores com menos de 24 anos caiu de 6% para 5,1% no país.
Por outro lado, a proporção de mestres com mais de 50 anos subiu de 11,8% para 13,8%. No estado, o quadro é o mesmo. Os professores mais jovens reduziram de 5% para 4,7% e os mais velhos avançaram de 16,3% para 18,1%.
Uma turma de professoras
No 1° ano do curso de Magistério no Castelinho, a turma é composta só por meninas. Dois rapazes iniciaram a formação no curso normal para virar docente no Ensino Fundamental. Um desistiu depois do primeiro dia. Outro ficou meio ano.
Em meio ao desinteresse em jovens seguirem a profissão, as alunas indicam os motivos para almejarem uma carreira no magistério. “Quero ser uma boa professora”, diz Alexia Immich, 16. Para ela, o bom professor é aquele que sabe ouvir o jovem, que motiva para o aprendizado e que ensina a pensar.
Avaliação similar da colega Diulia Massotti, 22. Ainda assim, reconhece, se puder escolher, prefere lecionar na rede municipal. “No Estado, os professores não estão nem recebendo. Isso é muito injusto. O salário é baixo para uma profissão tão importante.”
Escolher ser professor é mais do que uma profissão, acredita Kauane Bruch. “É ter um compromisso de difundir o conhecimento para as próximas gerações.”
Em defesa dos mestres
Como uma forma de ajudar a reverter esse quadro de desvalorização, o Grupo A Hora idealizou o Programa Ensino e Educação (PENSE) Solidário. A iniciativa conta com o apoio da Univates, Associação dos Municípios do Vale do Taquari (Amvat), 3ª Coordenadoria Regional de Educação (3ª CRE), Sicoob, Instituto Dale Carnegie e Centro Regional de Oncologia (Cron).
O programa surgiu para valorizar a atuação dos professores e fazer com que a sociedade se envolva no processo de melhoria do ensino no Vale do Taquari.
Neste ano, está em curso o segundo ciclo. Serão distribuídos R$ 150 mil em prêmios para projetos desenvolvidos por escolas, professores e também um concurso de redação para os alunos. No ano passado, 15 iniciativas ganharam dinheiro, viagens e cursos.
As inscrições para participar do concurso estão abertas no portal jornalahora.com.br. Basta entrar e clicar sobre a logo do programa, no canto superior direito da página. No endereço pense.jornalahora.com.br, os interessados tem acesso ao regulamento e às inscrições, além da possibilidade de conhecer a iniciativa, ver fotos e acompanhar notícias sobre o PENSE.
Caravana amanhã
A escola estadual de Ensino Médio São Miguel, de Linha Sítio, Cruzeiro do Sul, recebe amanhã a caravana do PENSE. A equipe do A Hora, Sicoob, Dale Carnegie, Cron e Univates farão atividades com estudantes e com os professores.
FILIPE FALEIRO – filipe@jornalahora.inf.br