O dia 7 de outubro ficará marcado na história do estado. Para o IBGE, desde a última segunda-feira, o RS passou a ter mais idosos do que pessoas com até 14 anos. Fruto de uma expectativa de vida cada vez maior e do número de famílias com cada vez menos filhos, a mudança demográfica impacta o cotidiano, os negócios e a gestão pública.
O antigo conceito de velhice está hoje muito mais associado à ideia de maturidade, com pessoas ativas, articuladas e consumistas. A nova terceira idade procura produtos e serviços que atendem seus anseios. Trata-se de um movimento que, no universo corporativo, está estimulando o surgimento de novas oportunidades.
“Fiz 60 e esqueci dos 60”
“Meu pai, que era meu melhor amigo, morreu com 60 anos. E a gente achava ele velho. Hoje eu estou com a mesma idade e me sinto um guri”, conta o empresário Marcelo Munhoz, de Lajeado.
Em julho, tornou-se sexagenário. No ápice do seu pique profissional, garante o jovem idoso. Os hábitos diários em nada lembram os de sessentões de uma ou duas gerações anteriores à sua. Acorda antes das 6h, participa de um programa de rádio, pedala uma hora e vai trabalhar. Chega antes dos funcionários, todos com menos de 30.
Com a rotina ativa, ainda não dispõe de muito tempo para curtir a terceira idade. Nos momentos de folga, aproveita o lazer, na fazenda que compartilha com outros dois amigos, e viaja.
Para Munhoz, a idade depende menos dos números do que da mentalidade e da disposição. Ainda assim, a entrada no grupo dos 60 não foi tão fácil. “Nos primeiros dias, fiquei meio depressivo, mas fui assimilando. A idade é a gente quem faz. Fiz 60 e esqueci dos 60.”
“O que vale é a ação”
Maria Izabete Dartora tem 61 anos, é casada, tem dois filhos formados e cursa Direito na Univates. Formada em Pedagogia pela mesma universidade, quando ainda era a Fates, uma extensão da UCS, foi professora de pré-escola durante 20 anos. Hoje atua em uma empresa de cosméticos da família, em Encantado.
A segunda graduação era um sonho antigo. “Sempre pensava em fazer outro curso para saber mais, me aperfeiçoar. Mas pensamento só não é nada, o que vale é a ação. Prestei vestibular e comecei”, conta.
A meta é concluir o curso, mas ela não faz cálculos. Concilia duas ou três cadeiras por semestre com o trabalho. A relação com os colegas, muitos com menos de 25, é um desafio que não assusta.
“Sempre que começa o semestre tem uma certa apreensão. Não sei bem como eles me veem. A princípio ficam distantes, em seus grupos. Aí eu preciso me ocupar do espaço para poder interagir com eles. E é o que eu faço”, conclui.
Impacto e adaptação
nos negócios
Com o foco nesses consumidores, empresas de vários segmentos – como agências de viagens, planos de saúde, construtoras, escolas de idiomas e academias – estão criando negócios específicos para o cliente mais experiente. Os empreendedores percebem que vale a pena investir na terceira idade.
Em uma agência de viagens de Lajeado, a diretora Iede Schnorr afirma que chega perto de 50% o número de clientes com mais de 60 anos. “A terceira idade é outra. As pessoas chegam aos 60 joviais, dispostas, com energia para curtir a vida”.
Se o setor terciário se favorece da situação, os municípios ainda não despertaram para a nova fase. “É preciso ter um planejamento mais adequado nas gestões públicas e criar políticas voltadas para este público”, observa a presidente do Codevat, Cíntia Agostini. E a iniciativa privada, complementa, precisa perceber de uma forma ampla que é necessário inovar em ofertas e produtos.
A mais envelhecida do Vale
Otávio e Teresinha Mânica têm 73 e 72 anos, respectivamente. Eles são dois dos 590 idosos que formam 40% da população de Coqueiro Baixo.
Os três filhos do casal deixaram a cidade em busca de emprego e mais oportunidades. Esse tem sido o destino de grande parte dos jovens. Para prefeito Jocimar Valer, o desafio é criar atrativos para a permanência da juventude.
“Nos preocupamos muito com a sucessão rural, porque nosso município é essencialmente agrícola e grande parte dos idosos está nas propriedades”, diz Valer.
MATHEUS CHAPARINI – matheus@jornalahora.inf.br