“Eu cheguei até a chorar quando vi a água entrando na oficina”. A reação de Eliel de Lima, 43, ao acordar, foi a de desespero. Eram 7h quando uma forte enxurrada invadiu o estabelecimento de chapeação e pintura de veículos, situada na rua Santos Filho, quase na esquina com a Avenida Décio Martins Costa.
Tradicional ponto de alagamento de Lajeado, a rua do Valão ficou cerca de duas horas submersa. O suficiente para causar transtornos para motoristas, moradores e comerciantes. O grande volume de chuva (78 mm) registrado nessa sexta-feira, 4, é metade da média prevista para o mês de outubro, de 160 mm.
Lima, que reside no próprio estabelecimento com a esposa e a filha, teve um dia longo. Precisou socorrer cerca de dez carros que foram prejudicados com a enxurrada. “Alguns eu não consegui tirar à tempo. Além disso, perdi minha geladeira, pois o motor acabou molhando”, lamenta.
Essa foi a primeira vez que as águas invadem o estabelecimento de Lima nos cinco anos em que está instalado no local. “Já vi muita enchente aqui na volta, mas nunca tinha entrado que nem aconteceu hoje”, comenta Lima, ainda calculando os prejuízos decorrentes da enxurrada.
Região alta é castigada
A forte chuva também causa transtornos na região alta do Vale. Em 24 horas, o acumulado foi de 160 milímetros em Boqueirão do Leão. Conforme o coordenador da Defesa Civil local, Leandro Peterson, os maiores danos são nas estradas rurais.
Na área urbana, ruas ficaram alagadas e a água invadiu estabelecimentos comerciais. O autônomo Rafael da Silva, 39, foi atendido do lado de fora do açougue. “O bueiro da rua está entupido e a água ficou represada. A dona do estabelecimento improvisou para manter o atendimento, já que o acesso estava debaixo da água”, relata Silva.
Entupimento de bueiro também causou problemas no trecho entre Boqueirão do Leão e Progresso. Na comunidade de Linha Moisés motoristas tiveram dificuldade de transitar em razão do volume de água sobre a estrada.
Na localidade de Lagoa Dutra, próximo 3km do centro de Progresso a água invadiu o asfalto e a residência do agricultor Edemar Antônio Kunrath, 46. Segundo ele, já havia solicitado à prefeitura a limpeza do bueiro. Para resolver o problema, segundo a Secretaria de Obras, será necessário abrir parte do asfalto. O titular da pasta, Juarez Alcará, não informou prazo para executar o serviço.
Sem risco de enchente
A Defesa Civil de Lajeado está monitorando a situação do rio Taquari, que ontem à tarde chegou a 70 centímetros acima de seu nível normal, que é de 13,5 metros.
Apesar da chuva de sexta-feira ter registrado volumes muito acima do previsto, o risco de enchente, por enquanto, está descartado, segundo o chefe da Defesa Civil, Heitor Hoppe.
“Para começar a invadir as casas, o rio teria que chegar a pelo menos 19 metros. Não há um risco iminente de cheia, mas continuamos monitorando. Também dependeria do acumulado de chuva na região alta”, explica Hoppe.
Até a tarde de ontem, o escritório regional da Emater/RS-Ascar não recebeu chamados sobre possíveis prejuízos no campo. O gerente adjunto, Carlos Lagemann, ressalta que, em fenômenos de maior gravidade, as famílias atingidas buscam apoio imediatamente.
MATEUS SOUZA – mateus@jornalahora.inf.br
