Algumas semanas atrás, um periódico europeu conhecido mundialmente, o Financial Times, traz em sua edição impressa o título “Capitalismo. Hora de reiniciar”. Eu particularmente fiquei impressionada com a posição deste que é reconhecido por defender as ideias neoclássicas do liberalismo econômico, mas me surpreendi positivamente, pois o jornal afirma que o sistema capitalista de produção precisa ter um “recomeço”.
O capitalismo é o único sistema que conseguiu se reinventar ao longo do tempo e, ao que tudo indica, chegou novamente a hora. Essa reinvenção está baseada na compreensão de que as empresas devem entregar lucro com um propósito e tratar dos temas da distribuição de riqueza, das desigualdades territoriais, dos problemas ambientais, da extrema pobreza, da insegurança e da vulnerabilidade de grupos sociais, como temas fundamentais para o desenvolvimento econômico. Para tanto, para fazê-lo, nós nos deparamos novamente com a inovação, mas com a inovação a partir de negócios com propósito, as denominadas inovações sociais. Estas “constituem-se de novos produtos, serviços e modelos de negócios que atendem a necessidades sociais e criam novas formas de cooperação entre os atores (MURRAY et al., 2010).
As inovações sociais partem do princípio da identificação de necessidades e problemas sociais e que, a partir destes, são criadas soluções inovadoras. Tais negócios podem ser disruptivos ou incrementais, mas a questão principal é de que o empreendedor social e os chamados negócios de impacto têm um aspecto em comum e que faz toda a diferença, propósito. Não se trata de assistencialismo, mas também o foco destes negócios de impacto social e ambiental não é somente o retorno financeiro.
ambém é ter retorno financeiro, mas esse não é o objetivo por si só. Fazer parte de algo maior que você e a sua empresa, participar de um movimento que tem propósito e atenda pessoas que estão fora dos principais nichos de consumo, criar alternativas para grandes problemas globais que atingem muitas pessoas e que não possuem condições mínimas de vida e subsistência, está movendo e deve mover muitos empreendedores.
Eu não tenho dúvidas que ótimos negócios podem surgir com essa perspectiva, nos desafiando a olhar com cautela para os grandes problemas sociais e ambientais e, a partir destes, propor negócios de impacto. Só com alternativas inovadoras podemos propor soluções para problemas que nos afligem há muito tempo, pois fazer do mesmo jeito que fizemos hoje, terá os mesmos resultados que temos na atualidade. Por isso, me associo a essa proposição: queremos e precisamos de um novo recomeço para o sistema capitalista de produção, um capitalismo com propósito.
Opinião
Cíntia Agostini
Vice-presidente do Codevat
Assuntos e temas do cotidiano