Quando entrei para o jornalismo ouvi que a imprensa tem papel de apurar e propagar a informação de qualidade, com isenção e ética. Que deve questionar e revelar os feitos de quem trata mal o dinheiro público. Isso, para ser o mais resumido possível.
Não importa quão enorme ou pequeno seja o veículo, nem a região onde atua. A responsabilidade jornalística existe para quem respeita a profissão e faz dela um ofício autêntico de prestação de serviços ao seu público, em qualquer plataforma.
Atualmente, o jornalismo sofre uma interpretação esquicita, para não dizer outra coisa. De repente, anônimos sem a menor noção do que é o ofício verdadeiro do jornalismo ganham voz de legiões àvidas por “vingança”. E assim, as fakenews se espalham sem precedentes na história humana.
Ouço que a imprensa precisar mudar. Que ela é tendenciosa e dinheirista. Existem ainda os avessos aos meios de comunicação e que acham estes dispensáveis na atualidade, pois creditam tudo que precisam saber às redes sociais. É um equívoco perigoso para a democracia e a própria sociedade.
Neste aspecto, se erguem os jornalistas e os veículos com independência financeira e editorial. Sem estes, a sociedade ficará refém do “lixo digital” que domina as redes sociais, cujo objetivo inicial era aproximar as pessoas e não afastá-las.
Não esqueço do Congresso Internacional de Publicidade em Gramado, em 2017, quando a tônica de alguns especialistas foi sobre os algorítmos e seus guetos nefastos para a sociedade.
Os robôs são infalíveis em “aprisionar” os internautas em “bolhas” de conteúdos alinhados com pensamento ideológico dominante. Isso blinda a pessoa do contraditório e assim a manipula sem gerar a necessidade para questionar, pois tudo que recebe é como já pensa. Simples assim. Mas nem todos se dão conta.
É nesta seara e ignorância consciente ou inconsciente, que os extremismos se agigantam e multiplicam falsas verdades, fáceis de “emplacar” no raso discernimento que parece dominar na “era da informação”.
A desinformação deve ser combatida pelos meios de comunicação comprometidos com a verdade, mas o público também precisa despertar para a sensatez de que isso tem preço. Afinal, fazer jornalismo de verdade e com isenção custa caro. Os jornalistas pagos para apurar, escrever e, por vezes, enfrentar o mal feito, são humanos. Por detrás deles existem famílias, têm contas no fim do mês e tem responsabilidade para cumprir, principalmente, com seu público.
Por isso, a informação de qualidade precisa ser paga, por quem a consome. Aliás, este é outro equívoco reinante: achar que tudo é de graça. Um país dominado por monopólios de comunicação precisa refletir sobre seus hábitos, como bem escreve o colega colunista Ardêmio Heineck, na página 35.
No caso de um jornal, o leitor paga sua assinatura para receber notícias confiáveis. Se o jornal falhar no seu ofício, o leitor cancela. Diferente é para consumir notícias falsas, ninguém paga nada. Elas vêm de graça, às vezes em velocidade absurda.
Para finalizar esta reflexão retorno à manchete inicial: a imprensa precisa mudar? Ou é o consumidor de notícias que deve ampliar seu senso crítico e sensatez para discernir os conteúdos, e dar-se conta quando está numa “bolha” ou diante de um veículo que não merece a sua confiança?
Pense nisso.
Bom fim de semana todos!
Opinião
Adair Weiss
Diretor Executivo do Grupo A Hora
Coluna com visão empreendedora, de posicionamento e questionadora sobre as esferas públicas e privadas.