Guardião do bairro

Estrela

Guardião do bairro

Cachorro chegou ao local cerca de um ano atrás e conquistou a comunidade. Não possui endereço fixo, mora pelas ruas do bairro

Guardião do bairro

Nino apareceu num dia qualquer em outubro do ano passado. Ninguém sabia de onde vinha, se era um fugitivo, estava perdido ou apenas passeando. Carente e faminto, recebeu atenção, comida e água dos moradores. Foi ficando e se tornou o guardião do bairro.
Hoje o vira-latas de porte pequeno mora nas ruas do Boa União. Seu ponto mais frequente é a esquina das ruas Padre José Jungues e Edmundo Müller, mesma localidade onde, tempos atrás, moradores adotaram um gavião como mascote.
Com o tempo, ganhou diversos nomes. Na casa de Andréa, é o Nino. Do outro lado da rua, no mercado, atende por Chiquinho. Outra vizinha o batizou de Fofinho e há ainda um morador que o chama de Alex. O cachorro atende por todos estas alcunhas, principalmente se quem chama tem comida para dar.
“Ele apareceu do nada. Fiquei sabendo que ele era de um senhor de idade que se mudou e o abandonou. Por isso ele ficou tão carente. Mas é muito dócil e logo fez amizade com todo mundo. Todos gostam dele”, diz a moradora Andréa Müller, uma das tutoras.

Cão comunitário

Não é adepto a endereços fixos, mora um pouco em cada local. Acabou sendo adotado pela comunidade, é um cão comunitário. Um morador chegou a tentar levá-lo para casa. Não deu certo. O animal adoeceu e fugiu.
Logo, fez amizade com uma cadela vira-latas chamada Chocolate, com quem divide as noites no porão da casa de Andréa.
Ganhou um dormitório em frente ao mercado. Duas caixas de papelão formam seu quarto ao ar livre.
Mesmo sendo gostando de carinho e atenção, o sentinela do Boa União é avesso a colo e não se deixa pegar. Morre de medo de água e foge quando acha que vai ser molhado.
“Acho que ele parou aqui justamente porque ninguém tenta amarrar ele. Esses dias uma senhora disse que queria levar ele embora, todo mundo se olhou: não. A gente já se habituou com ele”, conta Miriam Dahmer.

Contrariando  o ditado

Diz o ditado popular que cachorro que tem muito dono morre de fome. Não é o caso. O amigo do bairro ganha comida de diversas fontes.
Além de doações variadas, Chiquinho conta com um cardápio fixo. Miriam cozinha um quilo de fígado de galinha, que o marido serve ao cão em porções diárias. Aos domingos, quando o mercado está fechado, ela vai até o local especialmente para encher o prato do sentinela.
Outra moradora relata que certa vez comprou bifes para dar ao bicho, mas ele recusou. Já havia comido o suficiente, estava satisfeito.
Pequeno, mas invocado
O porte do cão não chega a assustar. Mas, apesar de pequeno, Nino é um cão bravo. Mais especificamente, um cão territorialista. Se com os humanos, é amigável, sua postura muda quando se aproxima algum forasteiro canino.
Pouco tempo atrás, ele expulsou um grupo de três ou quatro cães que parecia querer disputar seu espaço. Por alguns dias ele chegou a ter um cão amigo. No entanto, o novato queria dormir na sua cama e a amizade durou pouco.
A inimizade se estende também aos membros da imprensa. Ao perceber a aproximação da reportagem, o guardião do bairro latiu algumas vezes e saiu andando. Não quis saber de fotos.

Aventureiro e namorador

Na maioria dos dias, ele fica pelo entorno, sai, faz a ronda, vai até o cemitério e volta. Mas, volta e meia ele desaparece. Muitas vezes se mete em confusões e volta com as marcas das brigas.
“Como ele é menor, acaba apanhando. Vira e mexe, aparece todo ferido. Ele é baixinho, mas é metido”, conta Andréa.
Outra razão apontada para suas fugas são os namoricos. Se aparece alguma cadela no cio, lá vai ele atrás. Uma moradora acredita que ele tenha alguns filhos espalhados pelas redondezas.

MATHEUS CHAPARINI – matheus@jornalahora.inf.br

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