O jornalista Leandro Demori estará hoje no Teatro da Univates, em Lajeado, para falar sobre jornalismo independente e investigativo. Ele é editor executivo do The Intercept Brasil e desde junho vem publicando reportagens sobre os bastidores da Operação Lava Jato. Em um breve bate-papo, antecipa um pouco da palestra de logo mais.
Vocês mostram o outro lado da Lava Jato. Qual sua avaliação sobre a cobertura jornalística da Operação, principalmente entre 2014 e 2018?
Leandro Demori – Eu acho que a imprensa passou por um momento muito difícil durante a Operação Lava Jato, principalmente de crise financeira, perdendo recursos que antes eram disponibilizados para as mídias tradicionais, e que passaram a ser repassados para as redes sociais, em especial, Google e Facebook. Isso causou demissões em massa no jornalismo brasileiro, justamente nos anos que coincidiram com a operação. Os grandes jornais reduziram suas redações, e as revistas enfraqueceram. Era um momento em que a imprensa carecia de audiência e de notícias explosivas. E foi isso que a Lava Jato ofereceu. Notícias com alto poder de audiência “grátis” durante cinco anos. E isso fez com que a imprensa em geral não optasse por uma cobertura crítica sobre a operação.
Como você reage às insinuações de que o Intercept é um veículo ligado ao PT?
Demori – É uma pergunta engraçada, pois justamente na semana retrasada nós publicamos uma coluna do João Filho, nosso colunista faz muito tempo, justamente atacando essa dificuldade do PT em fazer alianças no campo progressista e democrático, fazendo com que o partido fique isolado. E isso pode levar a mais anos de Extrema-Direita no poder, e isso está destruindo o país. Então, essas acusações de que somos petistas, ou que somos do PSOL ou ligados a organismos internacionais sempre existiram. Da mesma forma, recebemos críticas de petistas, dizendo que não defendemos o “Lula Livre”, ou que somos contra a pauta da esquerda brasileira. São críticas normais. E em relação à “Vaza Jato”, claro, as críticas surgem para tentar bater publicamente em nossos jornalistas porque não há como se defender das acusações gravíssimas que estamos reportando.
Partindo do princípio de que todo veículo jornalístico deveria ser independente e investigativo, o que diferencia o The Intercept Brasil?
Demori – Nós temos uma independência total do nosso financiador, que é a ONG First Look Media, que é quem financia o site. Não há gerência deles ou qualquer interferência em nossas coberturas. Não precisamos falar com ninguém sobre matéria ou cobertura sobre A, B ou C. Tocamos todas as nossas matérias e pautas aqui na redação do Rio de Janeiro, entre nossos jornalistas. Não existe assunto ou pauta proibido. É algo raro de se ver em todo o mundo. São pouquíssimos os jornalistas que têm o privilégio de trabalhar em um local com tanta liberdade de expressão e de publicar o que acreditamos ser a pauta pública mais importante do momento.
Como você reage às acusações de que o The Intercept Brasil age de forma criminosa ao divulgar os áudios e qual a resposta àqueles que tentam censurar a palestra?
Demori – Eu acho grave ver pessoas que se dizem “Liberais” tentando impedir uma palestra dentro de uma universidade, que é a “casa do conhecimento”, a “casa do saber”, e um lugar onde deve existir o debate. Na verdade essas pessoas não tem ideia do que é ser Liberal. Tenho certeza que qualquer Liberal que se preze no mundo inteiro não sentaria à mesa com esses vereadores, ou com qualquer pessoa desses movimentos ditos Liberais, mas que de Liberais não tem nada. O Liberalismo prega justamente a liberdade. A liberdade de debater, de se expressar. Então, quem fez força para impedir que uma fala pública de dois jornalistas ocorresse dentro de uma universidade, não entende nada de liberalismo. Eu sugiro que essas pessoas retornem à universidade para estudar um pouquinho sobre o que elas estão falando.
Salários e vereadores
A coluna desse fim de semana do colega e Diretor do Jornal A Hora, Adair Weiss, atingiu o ego de alguns parlamentares. O termo “assaltam” – entre aspas no texto original – causou furor no plenário de Estrela e Lajeado. Concordo em partes com o posicionamento do colunista. E discordo em outras tantas. Ele defende maior representatividade e salários menores. Eu defendo a redução das cadeiras em determinadas câmaras – e manutenção em outras –, mas temo que um salário muito inferior possa interferir na qualidade em cidades maiores. Afinal, não vivemos mais na década de 70, e, portanto, será difícil encontrar os bons voluntários de outrora.
Eu e Adair já apresentamos muitos posicionamentos diferentes. E muitos parlamentares pensam diferente em relação aos nossos posicionamentos. Isso faz parte do jogo democrático, principalmente para quem escolheu o alto salário para viver uma vida pública. Mas, quando algum vereador ameaça processar o jornal, com a falácia de que “o filho vai achar que o pai é um assaltante” ou que a “esposa falou em página policial” é porque as coisas estão saindo da roda normal desse jogo. Foi uma crítica dura. Mas todo mundo é adulto para assimilar o golpe e calar as críticas com muito trabalho e boas ações.
Mudanças em Teutônia
Um dos principais líderes do MDB de Teutônia, Luís Rückert, recém-eleito como vice-presidente da nova executiva emedebista no município, está saindo do partido e assinando ficha na sigla do atual vice-prefeito Dirinho, o PSD. A partir disso, Luís poderá assumir como Subsecretário da Agricultura, já que o secretário da Agricultura, Márcio Mugge, deixou o cargo no mês passado.
Churrasco e bom chimarrão
Em Estrela, Comandante César está cada vez mais incutido na política municipal. Ele quer ser o prefeito em 2021 e conta com apoio de muitos integrantes do MDB, e também de políticos de partidos aliados. Nessa segunda-feira, o aspirante no jogo político realizou um churrasco na companhia de Fabiano Diehl, dos secretários de Educação, Marcelo Mallmann, e de Obras, Cristiano Nogueira da Rosa, e também do vereador Ernani de Castro. No cardápio da turma, as estratégias para amenizar os possíveis rachas entre os aliados a partir de janeiro de 2020.
Bonificação
O governo de Encantado encaminhou projeto para instituir “bonificação por meritocracia (resultados) para os servidores nos cargos de motorista, Padrão 9 e operador de máquinas, Padrão 11, lotados na Secretaria de Obras Públicas”. Na sessão plenária dessa segunda-feira da Câmara de Vereadores, a matéria não foi para a votação. E permaneceu em pauta.
RODRIGO MARTINI – rodrigomartini@jornalahora.inf.br