O mês de agosto foi bastante movimentado e conturbado, fazendo com que diferentes opiniões sobre diferentes eventos fossem propaladas e defendidas com afinco, na imprensa e nas mídias sociais. Em nossa última coluna, falamos sobre a possível involução da espécie humana, o tempo decorrido desde lá me faz acreditar, ainda mais, que estamos nos movimentando nesta direção. O questionamento acima foi realizado pelo personagem Harry Potter em um dos seus filmes. Minha resposta seria: pode ser que sim, pode ser que não. É preciso ter presente que diferentes são as realidades, diferentes são as verdades. Temos o irrefutável, o objetivo, o que não pode ser refutado independentemente das crenças individuais. Não é o que penso, é o que é. Nessa situação a verdade é construída sobre o objeto, sem considerar a experiência que o observa. Porém, cada um de nós tem suas crenças, seus valores, sua forma de ler o mundo a partir daquilo que conhece, da trajetória que percorreu. Sendo assim, é possível que cada indivíduo tenha as suas verdades, que veja as suas realidades. A realidade individual é possível a partir da consciência que o sujeito elabora sobre um determinado objeto ou fato a partir das experiências vividas, o que definimos como subjetividade. É o ponto de vista de cada um sobre a realidade que estabelece o que é verdade, é realidade, ou não. Se há de um lado o irrefutável e de outro, o inquestionável, pois é da interpretação de cada um, o que nos resta dizer sobre a realidade ou a verdade? Resta dizer que por meio da linguagem, da comunicação, é possível estabelecer, coletivamente, realidades e verdades de modo que atendam a um grupo, a um coletivo, tendo-se uma dimensão intersubjetiva que permite um convívio, pois ninguém é detentor da verdade absoluta, como diria Umberto Eco: nem todas as verdades são para todos os ouvidos, nem todas as mentiras podem ser reconhecidas como tais. Pode-se dizer que as verdades e as mentiras são resultantes de construções, de indivíduos assim como dos coletivos. Dizemos que algo é verdade ou mentira, real ou irreal, na medida em que nos mantém unidos, que nos interessa. Me parece importante que estejamos abertos às realidades e verdades distintas das nossas, aprendendo a conviver com o diferente, com o divergente, de forma civilizada, negando a involução da espécie, e admitindo que o outro pode estar com a razão. Finalizando, a resposta do Professor Alvo Dumbledore: “Claro que está acontecendo dentro de sua cabeça, Harry. Mas por que raios isso significaria que não é real?”
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