“Ao que tudo indica, ele agiu de caso pensado”

O CHEFE SUMIU

“Ao que tudo indica, ele agiu de caso pensado”

Empresário desaparece sem pagar salários de quase 100 funcionários. Advogado dos trabalhadores acredita que a ação foi premeditada

“Ao que tudo indica, ele agiu de caso pensado”
Teutônia

Em um dia, 40 atendimentos e todos de funcionários da Teuto-Seg, empresa do ramo de zeladoria, portaria e limpeza. “É uma situação peculiar. Ao que tudo indica, o proprietário fugiu e aplicou um golpe”, diz o advogado Alan Bücker.
Em fase inicial de apuração, ele descobriu que houve uma mudança no quadro social da empresa. A organização prestava serviços de zeladoria, portaria e limpeza para empresas, instituições de ensino e de saúde da região. Tinha funcionários em vários municípios da região, como Lajeado, Estrela, Westfália, Bom Retiro do Sul, Teutônia e Poço das Antas.
Faz menos de três meses, a esposa do proprietário deixou a organização. Neste período, negociaram a casa onde viviam, em Teutônia, e ele passou a ser o principal gerenciador da empresa. “Pelos relatos iniciais, ao que tudo indica, ele agiu de caso pensado”, realça o advogado.
Enquanto se buscam os mecanismos legais para ressarcir os trabalhadores, famílias vivem um drama. “Para eu vir aqui hoje (no advogado), tive de pedir dinheiro. Tenho compromissos. Já tem estão me ligando, me cobrando, e não tenho como pagar. Não sei o que vou fazer”, lamenta a serviços gerais Jaqueline da Silva.
Trabalhava na Teuto-Seg com carteira assinada fazia dez meses. Antes, atuou alguns meses na informalidade. No contracheque, mostra o quanto recebeu no mês passado, inclusive com alguns descontos questionáveis. “Eu não recebia vale-alimentação e mesmo assim, pagava R$ 50. Mas isso é pequeno perto de ficar um mês sem salário. Ele (o proprietário) foi embora e nos deixou a nada.”
Lidiane Alves da Conceição ia completar dois anos de empresa. Com as informações sobre a carga horária, também descobriu que a empresa que contratou a Teuto-Seg havia pago o contrato na sexta-feira. “Era para termos recebido na semana passada. Fomos ver, e disseram que havia um problema para o depósito e que seria na segunda. Logo de manhã fui ver, e não tinha depósito.”
Com dois filhos, um de sete e outro de três anos, diz não saber como vai pagar o aluguel do mês. “Vou ter de pedir emprestado. Agora vamos para cima. A nossa folha de pagamento mostra de onde saiu o dinheiro e ele não nos repassou.
Durante todo o dia de ontem a reportagem tentou contato com o proprietário da empresa. Ele não retornou nenhuma das ligações.

Sala vazia

A sede administrativa da terceirizada fica na Rua 25 de julho, no bairro Languiru, em Teutônia. Na sala comercial, ficou apenas o tapete com o logo da empresa. Em todas as terças e quartas, havia seleção de funcionários, diz um empresário vizinho.
“Agora tiraram até as placas. Que triste isso.”
Nas ruas, muitos estavam incrédulos. “Eu conhecia ele fazia anos. Era uma pessoa muito simpática. Não dá para acreditar”, diz uma vendedora. Com pelo menos 12 anos no mercado, a terceirizada prestava serviços para empresas consolidadas da região.
O mobiliário teria sido retirado na noite de sábado. Os funcionários ficaram sabendo do desaparecimento do dono da empresa na segunda-feira, após troca de mensagens em um grupo de whatsapp.

Processos separados

Ao invés de uma ação coletiva, o advogado Alan Bücker optou por processos individuais. De acordo com ele, pela lei, existe o princípio da corresponsabilidade. Significa que as contratantes da terceirizada também podem ser atreladas e terem de arcar com os prejuízos dos trabalhadores.
Porém, há pessoas que não querem essa indisposição. Optaram por cobrar apenas da Teuto-Seg. De acordo com ele, pelos documentos recebidos desde segunda-feira, os pagamentos sempre foram corretos. “Nunca houve atrasos. Agora temos essa situação da falta de pagamento do mês de agosto e dos primeiros dias de setembro.”
Voldemar Molschbacher está desde o início na empresa. São 12 anos na Teuto-Seg como porteiro e confirma as informações de que sempre recebeu corretamente. A surpresa foi quando chegou para trabalhar nessa segunda-feira. “Fiquei sabendo que não havia mais contrato, pois a firma tinha fechado.” Aposentado, espera voltar ao posto o quanto antes. “Era um complemento importante à minha renda”, diz.

“Jamais imaginei algo assim”

Everaldo Wieczorek trabalhou por nove anos na empresa. Há 15 dias estava desligado da Teuto-Seg. Era o fiscal responsável por coordenar os demais funcionários. “Vim aqui dar apoio aos colegas. É uma situação muito triste. Jamais imaginei algo assim.”
Ficou sabendo da situação na noite de domingo. “Tentei contato com o patrão. Agora meu sentimento é de indignação. Não há outra palavra para descrever.”
No momento da saída da empresa, conta, teve uma conversa com a direção da empresa. “Havia rumores que havia problemas financeiros. Perguntei sobre isso. Ele disse que ia dar a volta por cima. Que ia seguir trabalhando. Eu custei a acreditar que ele havia aplicado esse golpe terrível nas pessoas.”

FILIPE FALEIRO – filipe@jornalahora.inf.br

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