Pesquisa aponta crescimento de 19%

MAIS ORGÂNICOS NA MESA

Pesquisa aponta crescimento de 19%

Nos três estados do Sul, está o maior percentual de consumo. Na região, o número de produtores orgânicos teve um salto de 2015 para cá. Dos pioneiros de Forqueta, até a disseminação da cultura agroecológica, hoje são 39 agricultores com certificado e possibilidade de chegar a 62 até 2020. Publicação da Univates traça métodos de organizar a cadeia de produtores e o potencial desse nicho

Pesquisa aponta crescimento de 19%

Na casa da professora Sinara Ledur, de Lajeado, a preferência é por frutas, hortaliças e legumes orgânicos “Também é uma forma de conscientizar o meu filho Luiz (8 anos) a ter uma alimentação mais saudável”. Esse hábito começou com uma preocupação comum: a saúde.
Ao passo em que mais pessoas voltam às atenções para a busca por alimentos livres de defensivos químicos, também cresce o número de produtores. Até 2015, o Vale do Taquari tinha apenas um grupo de agricultores dedicados ao cultivo agroecológico.
De lá para cá, mais cinco organizações foram criadas. Hoje, há um total de 39 propriedades com selo orgânico e outras 11 lavouras sem uso de agrotóxicos.
Para a bióloga, professora e pesquisadora em Desenvolvimento Rural, Mirian Fabiane Dickel Strate, esse movimento se alinha com o processo de urbanização do Vale. “Isso faz com que a demanda por alimentos cresça. Somado a isso, há uma maior preocupação dos consumidores com a saúde, considerando o grande volume de agrotóxicos usados na agricultura.”
Esse avanço aparece também na área de cultivo e das feiras ecológicas. Conforme a Comissão da Produção Orgânica no RS existem quase 100 pontos destinados ao comércio desses produtos.
Em torno de 34% da população dos três estados do Sul inclui orgânicos na cardápio. Nos últimos seis anos, segundo o Mapa, a área cultivada registra crescimento de 88,5%. Passou de 603,2 mil hectares em 2013 para 1,13 milhão. O número de produtores saltou de 6,7 mil para mais de 15 mil.

Mercado em expansão

Pesquisa da Organis publicada nesta semana mostra que 19% dos brasileiros consomem algum produto orgânico; 35% compraram alimentos agroecológicos nos últimos seis meses e 67% estão dispostos a aumentar compra de produtos. Nos três estados do Sul está o maior percentual de consumo do país.
Atender essa crescente se torna um desafio e uma oportunidade. A produtora de Santa Clara do Sul, da localidade de Sampaio, Terezinha Adriana da Silva largou a fumicultura e hoje se dedica só aos alimentos.
A decisão veio com a mesma preocupação da professora Sinara Ledur. “A gente lidava com muito veneno. Isso estava prejudicando a nossa saúde”, conta Terezinha.
Justo em Santa Clara do Sul está o expoente regional da agroecologia. Por meio do Programa de Produção Orgânica, lançado em 2017, houve um estímulo para organização dos produtores e também para criar espaços de venda dos alimentos. Um dos objetivos é disponibilizar 100% da merenda escolar com alimentos livre de agrotóxicos. Até 2020, a meta é ter pelo menos 300 hectares cultivados por meio desse modelo.

A semente de Arroio do Meio

Em meados da década de 90, se inicia uma organização que mais tarde se transformaria no Grupo de Agroecologistas da Forqueta. “A agricultura estava passando por um momento muito difícil. Várias ideias surgiram, projetos para diversificar as produções. Nós começamos a produzir pepinos, tudo da maneira convencional, com muito veneno”, relembra o agricultor Carlos Pedro Kirch.
“Construíram mais de 40 estufas aqui na comunidade”, diz a mulher dele, Adelci Kirch. Mas os resultados não vinham e as consequências para a saúde começaram a aparecer. “Tinham agricultores se intoxicando. Nós resolvemos produzir e tirar o veneno”, conta Carlos.
Com a retirada gradual dos compostos químicos, surgiu outra barreira: onde vender? “Os mercados não tinham. Não se falava em agroecologia naquela época”, conta outra agricultora do grupo, Márcia Ferrari.
07_AHORAA primeira iniciativa para ligar produtor e consumidor foi do Sindicato dos Trabalhadores Rurais da Cidade. Três vezes por semana era montada uma banca com hortaliças.
Depois disso, novas oportunidades surgiram. Em 2002, estima o assistente técnico regional na área de recursos naturais da EmaterAscar-RS, Marcos José Schäfer, os agricultores Forqueta criaram a primeira rede voltada à produção orgânica.
Por quase 13 anos foi o único grupo reconhecido como de agroecologia. “De 2015 para cá houve um salto. Importante contextualizar, nada ocorre do dia para a noite. É um trabalho de incentivo, de organização dos produtores, de mudar a mentalidade e buscar formas diferentes de produzir.”

Espaço para viver a agroecologia

Na propriedade de Márcia Ferrari funciona o “colha, pague”. Faz seis anos que ela e o marido, Carlos Ferrari, abriram a lavoura às pessoas. “É mais do que vender. Criamos um espaço para as pessoas vivenciarem uma experiência.”
A propriedade da família Ferrari faz parte dos roteiros turísticos de Arroio do Meio. Os visitantes vêm de diversas regiões. “Na semana passada, veio uma família de Santana do Livramento. Também recebemos excursões de escolas. É um momento para conversarmos sobre preservação ambiental, sobre hábitos saudáveis e sobre agroecologia”, diz Márcia.

Feira no shopping

“A gente nunca imaginou estar com uma banca de produtos orgânicos em um Shopping. Agora já vamos completar um ano aqui”, diz o produtor de Santa Clara do Sul, Rogério Lucas Stolben.
Uma vez por semana, ele e outros produtores do município levam as produções para o saguão do Shopping Lajeado. “Eu tinha vindo uma vez com o meu neto. Agora venho aqui todas as semanas”, diz Terezinha da Silva.
Neste tempo, estabeleceram relações até de amizade com os clientes. Os próprios restaurantes do centro comercial já fazem encomendas e anunciam às pessoas o uso de hortaliças orgânicas. “Estamos fechando bons negócios. É uma semente que começa a nascer”, realça o agricultor.
Na tarde dessa quarta-feira, o casal de Colinas, Lisane e Írio Konrad, passeavam pelo shopping. Moradores da localidade de Ano Bom Alto, criam frangos e suínos. Aproveitaram o passeio para comprar hortaliças e morangos no shopping. “A maior dificuldade para nós é encontrar locais para comprar produtos orgânicos”, diz Lisane.
 

FILIPE FALEIRO – filipe@jornalahora.inf.br

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