Nascida e criada em Lajeado, Libgard Hunecke, 83, viu de perto o crescimento urbano do município. Durante 62 anos atuou como comerciária no centro. Hoje aposentada, caminha pelas ruas e fica impressionada. É muito diferente. Ela lembra como eram as ruas, o convívio e a tranquilidade do passado. No início de setembro, na semana da pátria, pensa que esse é um momento para pensar a relação com a nação, com a cidade e com o estado.
Como era o centro de Lajeado?
Era bem pequeno. Na maior parte, nem calçamento tinha. Vi isso mudar. E foi rápido. O salto começou ali pelo fim dos anos 80. Há 30 anos, a gente conhecia todo mundo pelo nome. Saia pelas ruas e cumprimentava a todos. Sabia de quem era filho, sabia o que fazia. Hoje não conhecemos mais ninguém. Cresceu para todos os lados. Antes era muita gente que vinha do interior.
A senhora trabalhava no comércio. De que forma era o trabalho?
Antes era muita gente que vinha do interior. Tínhamos de falar alemão. Só falava português quando vinham clientes da região italiana. Eu comecei com 14 anos. Meu primeiro trabalho foi na Casa Americana. Depois passei por várias lojas e só fui parar com 76 anos.
A gente não tinha calculadora. Era tudo no lápis. No início, a loja trabalhava só com tecidos, depois que foi começar a vender confecções. Então cortávamos os pedaços, tirávamos a nota na hora e calculava tudo de cabeça.
Está explicado por que a senhora está aí tão bem.
(Risos) Tomara a deus. Mas me sinto bem mesmo. Caminho todos os dias, exercito minha mente. Leio bastante. Mas também tem algo de família. Tenho uma tia que está com 101 anos.
Neste crescimento da cidade. O que aconteceu de bom e o que precisa melhorar?
Foi uma coisa de louco. Veja a construção civil. Na minha época não tinha tanto prédio. Era só o edifício Lincoln. Também a quantidade de comércio, de indústria. A cidade se desenvolveu, gerou trabalho.
Agora muitas coisas precisam melhorar. Lajeado não é uma cidade limpa. As ruas estão sujas, há problemas no saneamento básico. O trânsito também é bem ruim. Eu sempre cuido. Só atravesso na faixa de segurança.
Além dessa relação com a cidade, setembro marca a independência do Brasil. No passado, como era a semana da Pátria?
Eu estudei no Ceat e tínhamos momentos cívicos constantes. A gente se perfilava, cantava o hino com a mão no coração. Nos desfiles de 7 de setembro, a cidade parava. Todo mundo participava. Hoje se perdeu isso, acho que nem desfiles mais fazem. Para mim, está na hora de sermos mais patriotas. De valorizarmos o nosso país, a nossa cidade e o nosso estado.
FILIPE FALEIRO – filipe@jornalahora.inf.br