“Assumi o que a prefeitura não faz”

Florestal

“Assumi o que a prefeitura não faz”

Aos 71 anos, Ancelmo Preussler é o responsável por varrer as calçadas e cuidar das plantas em áreas públicas do Florestal

“Assumi o que a prefeitura não faz”

O quepe sobre os cabelos já grisalhos de Ancelmo Preussler, 71, compõe a figura humilde do chapeador aposentado. Morador do bairro Florestal, de quartas a sábados ele se dedica a limpeza das ruas Duque de Caxias e Pedro Albino Muller. Em troca, alguns moradores lhe deixam trocados que complementam a renda de apenas um salário mínimo ao mês que ele recebe pela aposentadoria.
Uns dão R$ 10, R$ 20, e outros não costumam ajudar. Mesmo assim, Pubi, como costuma ser chamado, comprou uma vassoura que se tornou seu instrumento de trabalho. Manhã e tarde passa varrendo as ruas, recolhendo o lixo e aparando as plantas. Além de plantar novas mudas, principalmente nas ruelas que se tornaram símbolo do bairro, a exemplo da Travessa Wanda Maria Ruschel. “Os vizinhos ajudam como podem, e doam plantas boas”, explica Ancelmo.
Antes o trabalho era feito voluntariamente por Carmen Weiand, 87, que sempre gostou de cuidar das flores. Depois de quase 40 anos cuidando do bairro com a ajuda de alguns moradores mais antigos, ela passou o serviço para Ancelmo. Mas todos os dias ainda caminha por estas ruas para ver as plantas e conversar com a vizinhança.
Já faz três anos que o idoso assumiu a atividade no bairro. Pelo seu bom trabalho e dedicação, ganhou alguns clientes fixos que lhe pedem para limpar a área externa das casas. Muitos moradores que passam por ali elogiam a limpeza e param para conversar com ele.
Mas nem nos dias de chuva o serviço dá trégua. Pelo contrário. O morador limpa os bueiros para não entupir e acumular água nas ruas. “A prefeitura não faz essas coisas e, enquanto eu puder, vou fazer o serviço, vou limpando”.

Dia de fé

Todo o sábado, é sagrado: Ancelmo limpa a calçada e a entrada da Capela do Florestal e, quando a missa começa, senta-se em um banco para acompanhar. “Sou muito religioso, não falto um sábado”, garante.
Por isso, no fim de cada ano, a administração da capela separa um valor para doar ao morador, além de separar almoço quando a comunidade realiza eventos.

De casa

Ancelmo sempre foi morador de Lajeado. Quando mais novo, o pai era barbeiro, gostava de jogar e, em alguns dias, se perdia na bebida. A família vivia de aluguel. Ancelmo estudou até o 4º ano, alternando entre as escolas Irmã Branca e Fernandes Vieira. Aos 11 anos, já assumia seu primeiro trabalho remunerado na chapeação de automóveis, serviço que se tornou a profissão exercida até os 65 anos, quando se aposentou por idade.
Desde então, parte do valor que recebe no mês é reservada para a compra dos remédios da pressão. No verão, quando é muito quente, ele faz sobrar uns trocados para uma cerveja. Por detrás de uma vida de luta para garantir o próprio sustento, um homem humilde e solidário também preza pelo convívio social e por cuidar da natureza.
 
 

BIBIANA FALEIRO – bibiana@jornalahora.inf.br

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