A lajeadense Reni Teresinha Lawell se dedica à Associação de Deficientes Físicos de Lajeado (Adefil) desde 1994, quando a entidade ainda não tinha uma sede física e os encontros eram feitos nas casas dos participantes. Hoje ela é coordenadora geral e, além de ajudar as pessoas atendidas pelo serviço, também cuida do filho autista de 31 anos
O que te levou a participar da Adefil?
Fui convidada para entrar na entidade quando ainda não havia uma sede física. As pessoas só se encontravam para ler uma passagem da Bíblia, tomar um chá. Também porque tenho um filho autista de 31 anos. Quando ele era criança eu não tinha nem ideia do que era o autismo, porque ele não tem traços físicos que mostrem a deficiência. Aquilo foi um susto pra mim, porque achei que ele tinha apenas uma doença que ia passar. Não tínhamos o diagnóstico. Comecei a participar do grupo e desde então puxei a frente. Mesmo que meu filho não fizesse parte do público da Adefil, eu iniciei em razão dele, por empatia. Na época a entidade não tinha nada, nenhum estatuto.
Como passou a ser a tua relação com o teu filho?
Antes mesmo do meu filho ser diagnosticado com cerca de 10 anos, eu percebi que ele tinha uma deficiência. Parei de trabalhar para cuidar dele, achando que ia “passar”. Mas quando vi que era um deficiência, tive que voltar ao trabalho e conciliar os cuidados dele. Sempre fiz artesanato, dei aulas também. Na época era tudo difícil porque não se tinha informações que se tem hoje. Acho que fui mais ajudada pelo meu filho do que o ajudei. Ele tem um grau alto de autismo, mas é muito sociável, porque convive com pessoas diferentes desde o primeiro ano de idade. Está sempre no meio, convivendo, ajudando. Não fala nenhuma palavra, mas interage muito bem.
Como você vê o papel da entidade na vida dessas pessoas?
Temos uma equipe muito envolvida. Buscamos tirar essas pessoas do isolamento, tirar de dentro de casa. Muitas delas não tem uma deficiência física, mas sofrem de depressão, precisam deste convício social. Aqui elas produzem seu artesanato, levam para casa, vendem para complementar a renda. Temos vários projetos sendo desenvolvidos. Muitos também fazem parte do time de basquete em cadeira de rodas. Por meio disso também proporcionamos o aumento do vínculo familiar. Hoje trabalhamos também com as famílias.
O que faz continuar na entidade?
Tenho uma caminhada longa na Adefil. Já tentei preparar uma pessoa para ficar no meu lugar, mas é bem complicado. Uma pessoa que dê continuidade a isso tudo. Muitas pessoas que chegam aqui se assustam, porque a demanda é grande. Todo o trabalho que é oferecido aqui é de forma gratuita. Tem que estar sempre correndo atrás, fazendo promoções, chamando a imprensa. Além disso temos projetos todos os dias e noites, passo quase sempre cerca de 15h na entidade. Mas é uma troca muito grande. Quando acontece algum acidente, ninguém quer ir comigo para informar sobre o nosso serviço. Eles têm medo de não saber o que falar. Mas não tem muito o que falar, já me acostumei, apenas dizemos que estamos aqui para ajudar. Eu gosto do que fazemos aqui. É muito importante.
BIBIANA FALEIRO – bibiana@jornalahora.inf.br