Um dos homicidas mais procurados do estado foi preso em Sério entre a manhã e a tarde de ontem. Na pacata cidade, com menos de 2 mil habitantes, ele se apresentava como engenheiro mecânico em busca de mais tranquilidade para criar os filhos.
Inclusive estava construindo uma casa. “Estava se tornando um amigo”, diz um homem que prefere não se identificar. Natural de Gravataí, Elivelton Araújo da Rosa, 37, era conhecido como Nenê. O criminoso havia sido preso em 2015 junto com outros dois matadores da quadrilha. Ele estava foragido desde junho deste ano.
Os moradores da comunidade de Araguari, distante oito quilômetros do centro de Sério, custam acreditar que ali residia um criminoso procurado por integrar uma quadrilha. “Achava que bandido tinha cara diferente. Me parecia uma pessoa de bom coração”, relata o morador. “Com que cara vamos olhar pra ele se um dia for solto e voltar a morar aqui”, conta outra moradora.
Considerado de alta periculosidade, chegou pela primeira vez ao interior de Sério faz seis anos. Na ocasião teria adquirido a área de terra, cerca de seis hectares, com duas casas de madeira e um galpão.

Exames de DNA comprovaram que carro era usado para matar desafetos de facção da Região Metropolitana. Preso em Sério integrava bando
Por muitos anos o imóvel ficou sem uso e, raras vezes alguém frequentava o local. “A mulher dele aparecia de vez em quando, mas pouco falava com nós”, recorda um dos vizinhos.
Há três meses vieram morar em definitivo no local, iniciando inclusive a reforma de uma das casas.
Pouca interação social
A família tentava não chamar atenção. Evitava falar da vida para os moradores próximos. “Sempre o chamava de vizinho, não sabia no nome dele. Agora mais recentemente um dos filhos deixou escapar o nome do pai e o apelido dele, Nenê”, comenta.
Os filhos com idade média de 6 e 14 anos não tinham contato com os moradores. Questionado sobre a matricula escolar, o homem afirmou que o filho mais velho tinha uma doença e laudo que o liberava da ida à escola.
A família também não aceitou fazer cadastro para atendimento de agente comunitário de saúde. “Uma agente procurou eles, mas falaram que não tinham interesse em usar os serviços públicos de saúde”, conta um dos moradores.
Todas as compras e despesas eram pagas com dinheiro. “Quando ele comprou a área de terra, há seis anos, pagou cerca de R$ 53 mil em dinheiro que trouxe numa bolsa”, lembra.
Operação policial
O cerco policial iniciou por volta das 10h, da manhã. A Brigada Militar bloqueou estradas vicinais que poderiam ser trajetos de fuga. Em seguida, chegaram na residência em comboio. “Cerca de seis veículos e 15 policiais fortemente armados. Não fazia nem ideia do que estava acontecendo. Não deixaram ninguém passar pela estrada”, relata uma das vizinhas.
Imagens aéreas com drone auxiliaram os militares em campo. “Dava pra ouvir quando arrebentaram as portas. O Nenê tava junto do pedreiro auxiliando na obra quando os policiais chegaram”, conta.
Moradores relatam que os policiais fizeram buscas ao redor da casa. “Ouvi barulho de pá na terra. Acho que procuraram algo, suspeitando de estar enterrado”, deduz o morador.
Os policiais levaram o criminoso antes das 12h30min. O restante da família deixou a propriedade por volta das 15h. “Vi a mulher carregar algumas malas e deixar o local. Estamos com receio que alguém volte. Tem um homem que diziam ser irmão do Nenê, ele vinha com certa frequência”, relata o morador assustado com a situação.
A operação foi feita em conjunto entre os setores da inteligência da Brigada Militar da Região Metropolitana e do Vale do Taquari. Conforme a polícia, Elivelton foi abordado e não esboçou reação. “Caveirão da Morte”
Em 2015 a Polícia Civil descobriu o uso de um veículo blindado para cometer assassinatos. As adaptações no veículo eram artesanais. Pela investigação, pelo menos 40 pessoas teriam sido assassinadas por um trio de criminosos dentro do carro.
Os matadores agiam a mando dos chefes do tráfico de Gravataí. Um deles era Elivelton. As vítimas eram desafetos e ex-integrantes do grupo criminoso. A adaptação no carro tinha chapas de ferro para proteger o motorista e o passageiro, com uma abertura para atirar do banco de trás. No porta-malas haviam três furos. Os policiais acreditam que eram usados para escoar água e sangue.
FELIPE NEITZKE – regional@jornalahora.inf.br
FILIPE FALEIRO – filipe@jornalahora.inf.br