“O meu medo é que as crianças e adolescentes da minha família, os meus vizinhos, aqueles com quem a gente convive se tornem adultos violentos ou criminosos. Já a minha esperança, é que, por meio dos ensinamentos da família, da escola, consigam escolher o caminho do bem.”
As palavras da agente de saúde Silvana Jung Pereira resumem a primeira atividade com os multiplicadores da cultura da paz. Cada integrante precisava dividir os seus medos e suas esperanças sobre a violência.
Nessa sexta-feira, mais de 100 servidores públicos municipais, entre professores, assistentes sociais e agentes de saúde, abriram os trabalhos do programa “Cada Jovem Conta”.
A iniciativa é uma ramificação do “Pacto pela Paz”, no eixo referente à prevenção da violência. Elaborado pelo Instituto Cidade Segura, o programa tem como objetivo identificar onde estão as crianças e adolescentes vulneráveis, sejam vítimas ou com comportamento violento.

Pacto pela Paz reúne diversos órgãos públicos, entidades privadas e MP
Com esse diagnóstico, se inicia um plano individual da rede pública. De acordo com o diretor do instituto, Alberto Kopttike, com base nos índices criminais foi possível mapear as áreas críticas. A partir disso, a estratégia foi criar grupos para atuação em rede.
As sete organizações contam com uma equipe multidisciplinar, que terá reuniões periódicas, onde serão criados planos de ações individuais. “Aqueles com problemas de comportamento, de drogadição, ou que estejam evadindo a escola. Os grupos vão trabalhar com cada um deles. Vamos agir antes, junto e melhor”, acredita.
Para identificar os menores, os multiplicadores terão uma metodologia criada por meio de evidências de como se criam ambientes violentos. Este caminho passa por setores como: saúde, amparo na educação, assistência social e alternativas para atividades culturais e esportivas.
Entre o medo e a esperança
Um barbante sendo desenrolado. Cada servidor pega uma ponta e conta o maior medo e a esperança. Na primeira atividade de formação dos grupos, o momento foi dedicado para conhecer os demais colegas.
Entre os participantes, a orientadora social do CRAS, Heloísa Gasparotto Krombauer, que atua no Morro 25, teme que a cultura do ódio e a naturalização da violência na sociedade atual criem barreiras. “Tenho medo que a gente não consiga dar conta desse problema social.”
Na outra ponta, a esperança é que, a partir do programa, se consiga interferir no território. “Que a gente se aproxime das famílias e previna a violência.”
As histórias sobre desestrutura familiar, abusos, violência e drogadição faz parte da rotina para muitos desses servidores. A assistente social Simone Dullius trabalha com adolescentes. “Temos casos de tráficos e até homicídios envolvendo menores.”
Ela foi destacada para a rede do bairro Santo André. “É um território com muitas ocorrências com menores”, relata. “Meu medo é que a falta de oportunidade para os adolescentes façam com que sejam acolhidos pelo tráfico. Como esperança, desejo que eles consigam construir um futuro, com suas famílias, em um ambiente de paz.”
Trabalho em rede e integrado
“A única divisão que vale a pena é a do conhecimento. Essa é capaz de fazer a diferença na sociedade”. A frase do promotor de Justiça Sérgio Diefenbach ilustra como os entes públicos participantes do Pacto pela Paz. “Temos que escrever a palavra humildade. Em um lugar visível, para que a gente se lembre todos os dias. O que estamos fazendo não é suficiente. Precisamos nos esforçar mais.”
Essa análise é compartilhada pelo prefeito Marcelo Caumo e uma das formas de fazer diferente e melhor está justamente no Pacto Pela Paz, acredita. “A cidade está mudando. Vocês podem perceber. Começou com as operações de repressão. Agora começa a parte mais emocionante, de prevenção. Agora precisamos do apoio de todos.”
Segundo a consultora Tâmara Soares, do Instituto Cidade Segura, por meio dessa atuação em rede é possível concentrar esforços nas crianças e jovens vulneráveis e assim evitar que sejam conduzidos a violência ou cooptados pelo crime.
FILIPE FALEIRO – filipe@jornalahora.inf.br