“Eu comecei a tocar brincando e a coisa está ficando séria”

Notícia

“Eu comecei a tocar brincando e a coisa está ficando séria”

Flávio Antônio da Rocha, o “Nego Flávio”, tem 65 anos. Foi jogador de futebol profissional, ganhou carnavais, trabalhou descarregando caminhão por quase 30 anos e hoje tem um bar no bairro Hidráulica. À noite, trabalha como porteiro em um sushi,…

“Eu comecei a tocar brincando e a coisa está ficando séria”

Flávio Antônio da Rocha, o “Nego Flávio”, tem 65 anos. Foi jogador de futebol profissional, ganhou carnavais, trabalhou descarregando caminhão por quase 30 anos e hoje tem um bar no bairro Hidráulica. À noite, trabalha como porteiro em um sushi, onde ficou conhecido por suas participações especiais tocando pandeiro nos shows

Como começou a história de tocar pandeiro?

Comecei a tocar pandeiro em homenagem ao meu irmão, que morreu com 50 anos. Em Cruzeiro do Sul, foi um dos maiores pandeiristas. Cada vez que eu toco pagode eu lembro dele e daí eu toco além. Aprendi sozinho, colocava a música e acompanhava. Um dia o meu patrão, passou aqui e disse: ‘seu Flávio, traz o pandeiro e quando os guris tocarem, você entra”. Aí os clientes começaram a pedir. Tem uns que dizem que não vão embora enquanto eu não tocar.

O senhor teve relação com as escolas de samba?

Eu fui campeão de carnaval pela Mocidade e pela 13 de Maio. Fui considerado o maior tocador de surdão, o treme terra, de Lajeado. Todas escolas em que eu toquei, fui campeão. No tempo do carnaval de rua, que saía do Banco do Brasil e acabava na prefeitura.

Como é ter um bar para quem teve problema com alcoolismo?

Eu perdi quatro irmãs e um irmão de cirrose por alcoolismo. Simplesmente me agarrei com Deus. Eu tempero cachaça de abacaxi, sirvo os clientes. Eu estava perdendo domínio sobre a minha vida, peguei minha malinha e fui fazer o tratamento. Faz 20 e poucos anos que eu não bebo. Tenho uma filha de 20 anos que nunca me viu pôr álcool na boca. Ela faz faculdade em Caxias do Sul. Sendo um funcionário, isso para mim é um orgulho.

O que representa o pandeiro na tua vida?

Eu comecei a tocar brincando e a coisa está ficando séria. Cada vez eu gosto mais e tenho a confiança de que eu sei tocar. Me dediquei a ele e tenho resultado. Eu não toco só pagode, toco vanerão, valsa.

Como é o convívio sendo um homem negro criado em meio a descendentes de alemães?

Eu fui criado em uma família alemoa e sei falar de tudo em alemão. Com sete anos, fui adotado. Já fui atingido por preconceito em alemão. Eu entendi e respondi em alemão melhor que eles. Sempre através do diálogo. Não foi dando parte, ou pela agressão. Não. Você tem que responder para eles verem que eles é que estão errados.
 

MATHEUS CHAPARINI – matheus@jornalahora.inf.br

Acompanhe
nossas
redes sociais