Atentos a uma tendência natural dos consumidores, os quais buscam alimentos cada vez mais saudáveis e sem agrotóxicos, a produção de laranja orgânica surge como alternativa para diversificar no campo.
As secretarias de Agricultura, Emater-RS/Ascar e Cooperativa Leoboqueirense de Agricultores Familiares (Cooperlaf) firmaram parceria com a cooperativa Ecocitrus, de Montenegro.
A expectativa é de colher 70 mil caixas de laranja em cinco anos. Serão ocupados 47,5 hectares no cultivo da variedade Valência. Conforme Celita Peterson, chefe do escritório da Emater em Boqueirão do Leão, a região oferece características peculiares para o cultivo, tendo em vista o relevo e clima ameno, o qual possibilita um período diferenciado de colheita.
“A safra será entre outubro e dezembro, período com menor demanda na unidade de beneficiamento”, comenta. São 28 produtores inscritos para implantação dos pomares. “Queríamos iniciar com 20 hectares e já teremos mais do que o dobro da área necessária”, observa.
A implantação dos pomares orgânicos contará com acompanhamento da certificadora. “Esse processo será viabilizado pela Ecocitrus, bem como o fornecimento do composto orgânico”, explica.
A aquisição das mudas e correção do solo fica sob responsabilidade do produtor. O investimento por hectare é de aproximadamente R$ 6,2 mil. “As laranjeiras iniciam a produção a partir do terceiro ano e alcançam escala comercial aos cinco”, observa.
Entre as vantagens do sistema orgânico, Celita reitera a qualidade, garantia de venda e renda extra às famílias, além de um produto saudável aos consumidores.
Certificação agroflorestal
O técnico agrícola e produtor, Leandro Peterson, 43, conquistou recentemente a certificação agroflorestal em uma área de 6 hectares, na propriedade em Linha Araçá, interior de Boqueirão do Leão. Já cultiva 700 laranjeiras e projeta ampliar o pomar. Hoje a principal cultura é o figo, são mais de mil plantas.
“É uma das primeiras áreas certificadas da região. A produção agroflorestal é o sistema mais complexo, aumentando a diversidade de plantas em um mesmo espaço, onde é feito o consórcio de espécies nativas, madeiráveis, frutíferas, medicinais, entre outras”, explica.
A organização da propriedade para o sistema iniciou faz dois anos. “Não usamos fertilizantes químicos e todo processo obedece aos critérios orgânicos”, acrescenta.
Além dos benefícios à saúde de quem produz e consome, a oferta de orgânicos representa maior valorização no mercado.
Sustentabilidade
Assistente técnico regional em Sistema de Produção Vegetal da Emater/RS-Ascar Regional de Lajeado, Derli Paulo Bonine, explica peculiaridades do sistema agroflorestal. Enaltece a convivência entre culturas e a sustentabilidade na produção. “As árvores nativas fazem, no verão, o sombreamento para a cultura de citros. A exemplo do angico, espécie que no inverno perde as folhas, permitindo então que as frutíferas recebam luz solar”, comenta.
Sobre a produção de citros no Vale do Taquari, ressalta ser uma aposta nova, ainda tímida. “O principal desafio é incluir mais produtores nesta filosofia. Existe uma grande oferta de laranja convencional. Mudar para o cultivo ecológico ou orgânico exige dedicação e conhecimento”, afirma.
Segundo Bonine, pesquisas apontam para uma maior valorização dos produtos orgânicos e inclusive, consumidores estão dispostos a pagar um sobrepreço, entre 10% a 20% a mais do que os alimentos tradicionais para terem em suas mesas um alimento de mais qualidade.
Ressalta os benefícios aos produtores e ao meio ambiente. “A primeira vantagem é saúde, já que não utiliza agrotóxicos. A natureza é preservada e o consumidor adquiri um produto saudável, sem riscos de contaminação”, finaliza.