Há quase 40 anos, o lajeadense Sérgio Dahlem, 67, vive nos EUA. Recentemente, ele visitou o local que foi palco do Woodstock, emblemático festival ‘paz e amor’ que completou meio século neste mês
Como era a sua vida em 1969?
Eu tinha 17 anos, trabalhava e estudava em SP. A minha história com os EUA começou apenas quatro meses depois do festival, quando vim para cá a primeira vez, para visitar amigos no Texas, nas férias de verão. Mas eu não tinha muita ideia do que havia acontecido em Nova Iorque. A minha esposa é americana e participou. Ela tinha 16 anos e foi com uns vizinhos. Eles queriam ir apenas na sexta, pois os ingressos eram por dia. Mas conseguiram ir embora apenas no domingo à noite. Os pais souberam dos filhos pela televisão, onde foi amplamente divulgado que não havia como entrar ou sair, pois era muita gente.
Como estão as celebrações aí nos EUA?
Todo mundo estava esperando por um show, mas foi cancelado, principalmente porque a vibração não é a mesma. A mentalidade de 1969 jamais será recriada. Depois daquilo, o movimento hippie continuou por uns anos, e eu e meus amigos vivemos isso aqui. Mas, hoje é diferente. Inclusive, para os puristas do Woodstock, como é a minha esposa, jamais deveria se tentar repetir aquilo. Tentaram no 20º aniversário e acabou numa esculhambação; tentaram depois, e foi pior ainda. As coisas mudaram. Agora existem outros shows que talvez mostrem mais o que é o espírito da juventude atual. Tive a oportunidade de visitar o local do concerto. Para quem absorveu tanto daquela cultura, o lugar é quase sagrado. É difícil de imaginar 400 e tantas mil pessoas naquela lomba, curtindo música, paz e amor. É quase uma experiência religiosa. Todo roqueiro deveria visitar.
Como é a recepção da juventude americana ao governo Trump?
Não sei… A participação governamental da gurizada é meio apática. Em 69, existia um fator em comum, que era a Guerra do Vietnã. Hoje em dia, são tantos os problemas, que é difícil de pegar um só. É segurança, é emprego, contas – aqui, o pessoal sai da faculdade devendo fortunas em empréstimos para pagar a educação.
O teu gosto musical ainda contempla bandas do festival?
Até hoje, escuto as mesmas músicas. Muitas das bandas da época ainda são tocadas nas rádios daqui. Comerciais de carros, principalmente, usam aquelas músicas dos anos 60 e 70, pois havia uma mensagem por trás. Hendrix, Crosby, Stills and Nash, Grateful Dead são bandas que ainda são relevantes e sempre vão ser.
GESIELE LORDES – gesiele@jornalahora.inf.br